Vice-presidente sunita do Iraque ameaça renunciar

Político exige que primeiro-ministro iraquiano erradique as milícias xiitas no país; neste domingo, atiradores sunitas mataram 23 policiais xiitas

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Por Agencia Estado
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Atiradores sunitas mataram 23 policiais iraquianos neste domingo, incluindo 17 assassinados em um ataque contra a cidade xiita de Basra. As ações indicam o possível início de uma campanha contra as forças de segurança iraquianas, predominantemente xiitas. Paralelamente, a ameaça de renúncia do vice-presidente do país, Tariq al-Hashemi, agravou a tensão no país árabe. O político ameaçou abandonar o cargo caso o primeiro ministro, Nouri al-Maliki, não aja rápido para erradicar dois temidos grupos xiitas que atuam no país. Desde o início do ano, xiitas e sunitas enfrentam-se em uma crescente espiral de violência sectária que ameaça colocar o Iraque em uma sangrenta guerra civil. Entretanto, Maliki depende do apoio de organizações políticas xiitas e resistiu à pressão americana para erradicar milícias ligadas a esses políticos. Os dois grupos mais poderosos são o Exército de Mahdi, do clérigo anti-americano radical Muqtada al-Sadr, e a Brigada Badr, braço militar do bloco político xiita mais poderoso do Iraque, o Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque (SCIRI). Soldados do Exército de Mahdi estão envolvidos em matanças sectárias, que têm vitimado milhares de iraquianos em Bagdá e no centro do país diariamente. O assessor do vice-presidente Mohammed Shaker confirmou a possibilidade de renúncia: "Sim, o vice-presidente está ameaçando deixar o governo. Não podemos viver com essa situação indefinida." Mesmo que a ameaça de Hashemi não passe de pressão política, ela deve abalar o já instável governo de al-Maliki. Instabilidade política Em busca de apoio dos xiitas, o primeiro ministro Maliki fez discursos inflamados na última semana, denunciando que os Estados Unidos estariam desrespeitando a soberania iraquiana. A rejeição pública dos americanos contra a guerra no Iraque cresceu depois que o embaixador dos EUA, Zalmay Khalilzad, firmou com Maliki uma série de compromissos, incluindo a desarticulação de milícias. "O sucesso no Iraque é possível e pode ser atingido. Os líderes iraquianos devem se esforçar para atingir parâmetros políticos e de segurança com os quais eles já concordaram", disse o embaixador. Maliki negou que tenha concordado com as determinações. "Sou amigo dos americanos, mas não sou um homem dos Estados Unidos no Iraque". Um assessor do primeiro-ministro reclamou a Bush sobre o que Maliki qualificou como um tratamento autoritário de Khalilzad. Em entrevista à CNN neste domingo, Khalilzad disse que o desentendimento era um mal-entendido. "O problema foi que algo que eu disse foi interpretado e passado de forma errada a ele. O que ele entendeu foi que eu tinha determinado os assuntos, quando isso cabe ao Iraque decidir", explicou o embaixador. O aumento da violência contra as forças de segurança xiitas coincidiu com os esforços dos Estados Unidos para trazer sunitas insurgentes a um processo de reconciliação. Os americanos travaram uma embaraçosa disputa pública com al-Maliki para acabar com as milícias e levar adiante medidas políticas que beneficiam a minoria sunita. Ao menos 23 mortes aconteceram nos cinco dias depois do Ramadan. Desde que milícias xiitas se uniram à disputa, milhares foram torturados e mortos dos dois lados da trincheira. Os conflitos em Bagdá e no centro do país deixam o Iraque à beira de uma guerra civil. Julgamento de Saddam Oficiais da justiça iraquiana disseram que o veredicto do primeiro julgamento de Saddam Hussein pode sair dois dias antes das eleições legislativas nos Estados Unidos. O líder dos advogados, Khalil al-Dulaim, alertou que a violência pode se espalhar no Iraque e ter efeitos em todo o Oriente Médio se Saddam for condenado ao enforcamento. Al-Dulaim disse ter enviado uma carta a George W. Bush falando sobre os riscos de condenar Saddam à morte. "Eu alertei ele sobre a pena de morte e sobre qualquer outro tipo de decisão que possa inflamar uma guerra civil no Iraque".

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