'Videla, um ser desprezível', afirmam avós da Praça de Maio

Ex-ditador implementou plano sistemático de roubo de bebês

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Por Ariel Palacios e correspondente em Buenos Aires
Atualização:

BUENOS AIRES - A líder da organização das Avós da Praça de Mayo, Estela de Carlotto, declarou hoje que o ex-ditador Jorge Rafael Videla - morto na manhã desta sexta-feira na prisão onde cumpria pena perpétua - era "um ser desprezível que deixou este mundo". Carlotto destacou que o ex-ditador "nunca se arrependeu do genocídio que cometeu".

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A líder das Avós também ressaltou que Videla recentemente realizou diversas declarações nas quais "reivindicava seus delitos". Segundo Carlotto, o ex-ditador era um "homem mau" que foi "julgado e condenado".

"Não festejo uma morte", disse Nora Cortinas, líder da organização Mães da Praça de Mayo-Linha Fundadora. "Não festejo porque quando morrem, seus segredos vão embora com eles", explicou Cortiñas, em referência às informações que os ex-integrantes da ditadura possuem sobre o paradeiro dos corpos dos desaparecidos e dos bebês roubados durante o regime militar.

Fontes da área militar indicaram nesta sexta-feira que o ex-ditador não receberá qualquer tipo de honra militar durante seu funeral.

Em 2009, a então ministra da Defesa, Nilda Garré, assinou uma resolução que proíbe a realização de honras militares nos funerais de ex-integrantes das Juntas Militares.

Videla, autor do golpe militar de 1976, que deu início à ditadura mais sanguinária da História da América do Sul, com o saldo de 30 mil civis sequestrados, torturados e mortos, além de 300 mil exilados. A ditadura também roubou 500 bebês, filhos das desaparecidas.

Deste total, a organização das Avós da Praça de Mayo conseguiram nas últimas três décadas e meia devolver a identidade a 108 jovens que eram crianças recém-nascidas na época da ditadura.

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BEBÊS. Videla diferenciou-se dos outros líderes de regimes militares da América Latina pela aplicação de um plano de apropriação sistemática de bebês e o ocultamento de sua identidades.

Os bebês, filhos das prisioneiras políticas, nasciam no cativeiro de suas mães, nos centros clandestinos de detenção e tortura da ditadura. Após os partos, eram entregues a famílias de militares e policiais estéreis. Na sequência, as mães biológicas eram assassinadas.

O deputado Horacio Pietragalla, que foi roubado pelos militares quando era um bebê de oito meses em 1976, declarou que Videla morreu "da forma como tinha que ser: preso e condenado". No entanto, lamentou que "nunca se arrependeu" dos assassinatos que ordenou. Pietragalla recuperou sua verdadeira identidade quando tinha 25 anos.

Segundo Pietragalla, "os crimes de Videla nos recordam a que ponto tão sinistro a Humanidade pode chegar"

No ano passado Videla foi condenado e meio século de prisão pela prática sistemática de roubo de bebês.

 

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