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Videoblogs desafiam Partido Comunista chinês

Embora estejam concentrados na América do Norte, vloggers furam censura online e atraem fãs também na China

Por The Economist
Atualização:

Um homem culto e de fala mansa, Wen Zhao jamais pensou em se tornar uma celebridade. Em Toronto, onde vive, Wen é constantemente chamado para tirar selfies ao lado dos seus admiradores (as mulheres são especialmente as mais entusiasmadas, diz timidamente).

Wen Zhao: driblando a censura do governo chinês (Reprodução YouTube) 

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Ele deve sua fama ao seus videoblogs atualizados a cada dois ou três dias, em que trata, em mandarim, de assuntos correntes, com frequência com muitas críticas ao Partido Comunista da China. Seus seguidores são especialmente chineses que vivem fora da China. Mas Wen, de 45 anos, admite que muitos estão na própria China, onde ele nasceu e cresceu.

Nos últimos anos, a mídia controlada pelo partido vem tentando estender sua influência para o exterior, comprando jornais em língua chinesa ou fechando acordos para fornecimento de notícias. Mas os vloggers, como Wen, atraem um público enorme no seio da comunidade chinesa no exterior com comentários que não seguem a linha do partido. E, ao que parece, também penetraram no grande firewall chinês, como o sistema de censura online é conhecido.

Em um dos seus recentes monólogos de 20 minutos, publicado no YouTube, Wen se referiu a uma manifestação, em novembro passado, na cidade de Wenlou, no sul da China, contra a construção de um crematório. E observou que alguns manifestantes entoaram o slogan “revolução dos nossos tempos”, que se tornou popular nos protestos em Hong Kong em favor da democracia que há meses têm agitado o país. Ele suspeita que um sentimento similar começou a se propagar para áreas do continente chinês.

Protesto contra a censura em Guangzhou, na China (Jonah M. Kessel / The New York Times) 

Tais opiniões não podem ser veiculadas na China, onde o YouTube está bloqueado (como também o website pessoal de Wen, o wenzhao.ca). Mas os internautas chineses acessam os videoblogs de Wen usando uma rede virtual privada. Os vídeos dele registraram cerca de 175 milhões de visualizações desde o lançamento em 2017 do seu canal no YouTube, ou 30 mil visualizações por programa. 

Ele diz que um quinto da audiência pode estar na China, crença que é reforçada pelas mensagens que ele recebe de chineses do continente e dos analistas do tráfego na internet para o seu site. Os seus videoblogs com frequência têm uma visualização 100 vezes maior do que os vídeos de notícias postados no YouTube pela principal emissora estatal chinesa.

Quando Wen trata da política na China, ele impulsiona a popularidade do seu canal (exceto entre os trolls que o bombardeiam com agressões online e que possivelmente, ele suspeita, são instigados pelo governo chinês).

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Logo depois de o canal ser lançado, o líder chinês Xi Jinping aboliu os limites de mandato do presidente, alimentando rumores de que jamais se aposentaria. A China entrou numa guerra comercial com os Estados Unidos. O choque dos dois eventos parece ter alimentado a demanda entre os chineses de análises independentes. 

Outros vloggers vieram se juntar a ele. Hoje há pelo menos uma dezena de pessoas cujos canais no YouTube em mandarim tratam de assuntos correntes e se gabam de ter mais de 100 mil assinantes. Muitas estão baseadas na América do Norte. Entre os vloggers mais conhecidos está Guo Wengi, empresário chinês (conhecido também como Miles Kwok) que fugiu para Nova York em 2014. Seu videoblog, com uma audiência de mais de 300 mil pessoas, está repleto de pequenas notícias não verificadas de fofocas políticas.

Os simpatizantes do partido também usam o YouTube. É o caso de Han Mei, que vive no Canadá e elogia o governo chinês nos seus comentários. Num programa recente ela afirmou que o Exército chinês “respondeu adequadamente” aos protestos da praça Tiananmen em 1989 (massacrou centenas, talvez milhares, de pessoas). Seu canal tem 92 mil assinantes.

Um casal chinês que vive em Nova York e utiliza os nomes Stone e Lexie administra um canal no YouTube, descrito por Stone como um veículo de opinião intermediária entre Wen e Han. Nos 20 meses desde que foi criado, o blog alcançou 130 mil inscrições. Pelo menos alguns estão na China. Um jovem fã em Pequim diz que o casal é confiável porque a China que Stone e Lexie apresentam “não é tão boa como afirma a mídia estatal, nem tão ruim como a mídia estrangeira sugere”. Stone, entretanto, diz ter certeza de que será preso se retornar ao seu país natal. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO © 2019 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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