Villepin quer punições mais duras a envolvidos em violência

Premier francês reagiu aos ataques a ônibus públicos registrados nos últimos dias em Paris; violência marca o primeiro aniversário dos distúrbios nos subúrbios franceses

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Por Agencia Estado
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O governo francês decidiu nesta segunda-feira endurecer a repressão aos incidentes de violência urbana, após a comoção causada pelas graves queimaduras sofridas por uma passageira de um ônibus incendiado sábado por jovens em Marselha (sudeste do país). A jovem Mama Galledou, uma estudante senegalesa de 26 anos, sofreu queimaduras em quase 70% do corpo, e, apesar de ter resistido "ao período difícil das primeiras 36 horas", os médicos estão cautelosos quanto às suas chances de sobrevivência. Galledou é a primeira pessoa a ficar gravemente ferida em decorrência dos incêndios contra ônibus cometidos nos últimos dias na periferia de Paris. Esses ataques aconteceram por conta do primeiro aniversário dos distúrbios nos subúrbios franceses que levaram o governo a decretar estado de emergência no país ano passado. Após presidir uma reunião de crise sobre a segurança e o transporte público, o primeiro-ministro, Dominique de Villepin, anunciou que a partir de agora serão "perseguidos e punidos" todos os que participarem de uma "emboscada" ou que a "incentivarem", e não apenas os autores diretos dos incidentes, como vinha acontecendo até agora. Esta é uma das três novas determinações de um projeto de lei sobre a prevenção de crimes, que em breve será avaliado pelo Parlamento. Os menores de idade poderão ter que comparecer a um juiz, o que "dará um caráter exemplar" às punições e evitará o "sentimento de impunidade", ressaltou o chefe de governo. Outra disposição relaciona-se aos ataques às forças de ordem. Villepin afirmou que o Ministério da Justiça pediu aos promotores que mostrem "a máxima firmeza" contra os autores dos distúrbios. O governo também decidiu reforçar os poderes "específicos" dos serviços de segurança no transporte público e ampliar a vigilância com câmeras nestes veículos. Villepin disse que 4 mil policiais e militares foram posicionados nas regiões mais complicadas para reforçar o policiamento, que patrulhas foram enviadas aos pontos mais sensíveis e que sistemas de alarme entre as empresas de transporte e a polícia foram criados. O primeiro-ministro considerou essencial a prisão "sistemática" dos culpados e a "exemplaridade e a rapidez da punição". Além disso, pediu aos ministros do Interior, Nicolas Sarkozy, e da Justiça, Pascal Clément, que "todas as disposições" sejam utilizadas na detenção e no indiciamento dos autores do incêndio do ônibus em Marselha. Testemunhas Para isso, pediu às testemunhas do ataque que se manifestem - "É um dever cívico" -, e lembrou que elas podem fazê-lo de forma anônima. Sarkozi, que prometeu que os autores do ato "bárbaro e criminoso" de Marselha serão "achados", disse que a polícia já tem pistas e que é provável que haja menores entre eles. O ministro e candidato ao Palácio do Eliseu em 2007 deseja que a maioridade penal, fixada atualmente em 18 anos por uma lei de 1945, seja reduzida. "O castigo é a primeira etapa da prevenção", disse. Quarenta especialistas participam da investigação do incêndio do ônibus de Marselha, cometido por três ou quatro jovens (acredita-se que tenham entre 15 e 18 anos) que tinham o rosto parcialmente coberto com capuzes e lenços. O presidente, Jacques Chirac, ligou hoje para os familiares da vítima para assegurar-lhes que fará "tudo para encontrar e punir (os culpados) com a máxima severidade". Segundo os especialistas, os métodos utilizados nos recentes incêndios de ônibus são mais refinados dos aplicados nos distúrbios de 2005, quando a imensa maioria dos veículos queimados eram carros estacionados. "Como os restos de carros queimados já não têm destaque (na imprensa), agora (os jovens) atacam os ônibus", disse um policial ao jornal Libération. Segundo o policial, os ônibus carregam forte simbologia, já que muitas vezes são um dos únicos serviços públicos ainda presentes nos bairros marginalizados de Paris. A noite de domingo para segunda foi "relativamente tranqüila", disse à EFE um porta-voz da Polícia ao informar que houve 41 detenções (nove na periferia de Paris) e que quatro policiais sofreram ferimentos leves. O porta-voz não soube especificar o número de carros incendiados.

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