Villepin tenta enterrar crise do CPE para seguir em frente

O primeiro-ministro disse que pretende tirar lições da crise e responder com paciência, convicção e coragem às inquietações dos franceses com o futuro

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro-ministro francês, Dominique de Villepin, e sua maioria conservadora deixaram claro nesta terça-feira que querem deixar para trás a crise do Contrato do Primeiro Emprego (CPE), evitando que a mobilização nas ruas seja mantida, com novas reivindicações. O CPE foi substituído por medidas favoráveis à inserção no mercado de trabalho de jovens com dificuldades para conseguir o primeiro emprego. O novo projeto de lei foi aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais da Câmara dos Deputados, e vai a debate no Plenário esta noite. O texto sobre "o acesso dos jovens às atividades na empresa" inclui medidas que custarão ?300 milhões anuais ao Estado. Os deputados vão votar o projeto ainda esta semana, talvez ainda na quarta-feira. Os socialistas prometeram não obstruir a votação. Resta saber se o Senado vai votar o texto antes do recesso de duas semanas, que começa neste sábado, disse um porta-voz. A decisão será tomada na noite de quarta-feira. Lições Na sessão do Parlamento, Villepin disse que ele, junto com o partido governista UMP, pretende "tirar lições da crise" e responder "com paciência, convicção e coragem à ansiedade social e às inquietações dos franceses com o futuro". Considerado o grande perdedor do conflito, o primeiro-ministro conservador foi criticado por um dirigente socialista, para quem o atual Governo "não tem força nem confiança". O oposicionista disse ainda que o período de um ano até as eleições pode ser inútil, e que "o CPE morre, mas a crise do governo continua". Villepin respondeu que, ao contrário da oposição, que comemora a queda do CPE, a sua vitória é "servir a todos os franceses", lutando "com lucidez e determinação para adaptar e modernizar" o modelo social francês. Mas os analistas duvidam que as reformas propostas no último ano do mandato do presidente Jacques Chirac sejam levadas a cabo. Chirac que sai mal da crise, assim como seu "herdeiro" Villepin. Ambos amargam recordes de impopularidade, segundo pesquisas. A crise política, para os analistas, só beneficia o número dois do governo e líder da UMP, Nicolas Sarkozy. Ele pode ter se livrado de seu maior rival em potencial nas eleições presidenciais de 2007. A oposição de esquerda, e sobretudo os sindicatos de trabalhadores e estudantes que lideraram a campanha contra o CPE, são os grandes vitoriosos. Esvaziamento das marchas Com a revogação do contrato, as manifestações que nos últimos dis levaram milhões de pessoas às ruas francesas perderam força. Ainda assim, cerca de 30 universidades registraram desordens nesta terça-feira, segundo o Ministério da Educação. A prioridade das autoridades é que as aulas voltem normalmente após as férias de Páscoa, para que os exames de fim de curso possam ser feitos normalmente. As manifestações estudantis desta terça-feira, convocadas antes da revogação do CPE, reuniram centenas de pessoas em Marselha, Lyon e Rennes, e milhares em Toulouse e Paris. No total, segundo a Polícia, 41 mil pessoas participaram de passeatas em 66 cidades. Em Paris, houve 2.300 pessoas. Os manifestantes e os grupos de jovens que saíram às ruas nesta terça-feira bloquearam o transporte urbano em Toulouse, ocuparam trilhos de trem em Dunquerque e pistas do aeroporto de Nantes com o objetivo de mostrar que ficarão alertas até a promulgação do projeto que substituirá o CPE. Mas também reivindicavam o fim da lei de igualdade de oportunidades (que prevê a formação profissional desde os 14 anos e o trabalho noturno dos adolescentes), e a revogação do Contrato de Novo Emprego (CNE), considerado o "irmão mais velho" do CPE e sinônimo de "precariedade". O CNE, implantado também por Villepin e em vigor desde agosto do ano passado, vale para trabalhadores de qualquer idade em empresas com menos de 20 funcionários, permitindo a demissão sem justa causa durante os dois primeiros anos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.