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The Economist: Violência iraquiana tem via inesperada

Em meio à repressão a atos por infraestrutura, estudo liga maior insegurança a zonas com novas rodovias; mais de 90 já foram mortos

Por The Economist
Atualização:

Motoristas a chamavam de “via expressa para o inferno”. Ataques na estrada ligando Bagdá a Amã eram tão frequentes em 2014 que caminhoneiros ganhavam três vezes mais para transportar produtos nesta via. Gangues e milícias eram uma ameaça constante.

Os jihadistas do Estado Islâmico bloqueavam rodovias, cobravam dos motoristas cerca de US$ 300 e até devolviam recibo. A estrada, oficialmente chamada Highway 10, foi recentemente protegida pelo Exército do Iraque. Mas aqueles que dirigem ainda encaram a ameaça de extorsão ou ataque.

Protestos no Iraque que já deixaram uma centena de mortos ignoram toque de recolher Foto: AP Photo/Hadi Mizban

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Os EUA concederam empréstimos para melhorar a estrada depois de 2003, ano em que o ditador Saddam Hussein foi derrubado. Ao longo da década seguinte, os americanos gastaram perto de US$ 12 bilhões em infraestrutura. O presidente George W. Bush esperava que elas pudessem estimular a economia local e reduzir a violência. Um estudo apresentado este ano em uma reunião da Associação Europeia de Economia sugere o efeito contrário.

A autora, Tamar Gomez, doutoranda do Imperial College London, apresentou dados abundantes para sustentar a tese. Mapas digitalizados mostraram onde novas estradas foram construídas (houve uma ampliação de 21% entre 2002 e 2011). Ao analisar a relação entre a pavimentação, o progresso econômico e a violência, ela concluiu que as obras de infraestrutura eram acompanhadas de mais violência política. Quando o PIB local crescia como resultado da reconstrução, o mesmo ocorria com os ataques. 

Uma explicação é que essas rodovias são importantes não apenas para o comércio, mas também para operações militares. Soldados americanos usavam novas rotas para missões e para transportar mantimentos - tornando-se alvos para emboscadas de insurgentes e explosivos improvisados. Os radicais também usavam as vias para se movimentar e lançar ataques. 

Manifestantes nas ruas de Bagdá, capital do Iraque,durante o toque de recolher imposto pelo governo Foto: Thaier al-Sudani/Reuters

Há outra explicação. “Estradas são um tipo de infraestrutura com alta carga política”, diz a autora do estudo. As feitas por americanos são vistas como expansão de um ocupante indesejado. Oficiais americanos já admitiram que falharam em ganhar apoio local para grandes projetos. As rodovias para o inferno eram, como sempre, pavimentadas com boas intenções.

© 2019 THE ECONOMIST NEWSPAPER LIMITED. DIREITOS RESERVADOS. PUBLICADO SOB LICENÇA. O TEXTO ORIGINAL EM INGLÊS ESTÁ EM WWW.ECONOMIST.COM

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