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Vitória de Blair expõe rebelião em sua base parlamentar

Por Agencia Estado
Atualização:

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, obteve na Câmara dos Comuns uma vitória com forte sabor de derrota, ao se deparar com uma rebelião da bancada de seu partido, o Trabalhista, contra sua política para o Iraque - o maior motim trabalhista desde que Blair assumiu o poder, em 1997. Os parlamentares aprovaram por 434 votos a 124 (entre os quais 59 trabalhistas) moção governamental que expressa apoio ao govenro na busca de uma solução para a crise iraquiana por meio das Nações Unidas e exorta o presidente do Iraque, Saddam Hussein, a agarrar "a última oportunidade" de cumprir integralmente as exigências do Conselho de Segurança (CS) da ONU. Os termos dessa proposta são os mesmos da nova resolução enviada pelos EUA, Grã-Bretanha e Espanha ao CS, que também não faz referência direta ao uso da força contra Bagdá, deixando essa possibilidade em aberto. No entanto, minutos antes da votação da moção do governo, 122 dos 410 deputados trabalhistas endossaram uma emenda contrária à participação do país numa guerra, ao assinalar que "as justificativas para uma ação militar ainda não estão comprovadas". Apesar de essa proposta ter sido rejeitada por 393 a 199 votos, ela demonstrou a forte divisão no trabalhismo e pôs Blair numa situação embaraçosa. Até então, o maior revés dele em seu partido fora em 1999, quando 67 parlamentares de sua bancada votaram contra cortes em verbas de cunho social, propostos pelo governo. O apoio de 199 deputados à emenda superou a previsão de que ela não teria mais de 100 votos e refletiu o sentimento antibelicista da maioria da população britânica no momento, principalmente se o ataque ao Iraque não tiver o respaldo do CS. Por causa de seu apoio incondicional aos EUA quanto ao uso da força, Blair e os trabalhistas perderam popularidade nas últimas semanas, segundo pesquisas de opinião. "Nós não estamos votando esta noite a questão da guerra, nós estamos votando a questão da estratégia governamental", declarou Blair, antes da votação, em resposta ao parlamentar Eric Martlew, de seu partido. Ao dizer que apoiaria a moção do governo, Martlew frisou que ele e outros membros da bancada não podem apoiar uma guerra contra o Iraque, a menos que seja aprovada por resolução da ONU. "Isso é exatemente o que eu quero", retrucou Blair. Ele está agora numa situação delicada, pois a França e a Alemanha apresentaram ao CS um memorando pleiteando o prosseguimento das inspeções de armas e obtiveram o apoio da China e da Rússia. A resolução que abriria caminho à guerra precisará ter voto favorável de pelo menos 9 dos 15 membros do CS e nenhum veto. Para não ir contra o sentimento popular e seu próprio partido, Blair precisará do aval do CS. Entretanto, o presidente dos EUA, George W. Bush, tem repetido que a aprovação de uma nova resolução "não é necessária, mas desejável". Bush voltou a atacar o Iraque em termos duros, alertando para o perigo de o presidente Saddam Hussein entregar armas de destruição em massa para uma rede terrorista como a Al-Qaeda. "Ele é um mestre da dissimulação e da protelação", afirmou Bush. Um alto funcionário dos EUA disse, sob anonimato, que o governo americano duvida que a Rússia e a China vetem a resolução. Hoje, após se reunir por duas horas no Kremlin com o chanceler alemão Gerhard Schroeder, o presidente russo, Vladimir Putin, reafirmou que deseja uma solução pacífica para a crise, e criticou as nações que apóiam uma guerra como forma de desarmar o Iraque. "Acreditamos que o potencial da (resolução do CS) 1441 está longe de ser esgotado", disse Putin. "Não estamos prontos para lutar, e pensamos que essa é uma solução ruim".

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