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Vitória de Bolsonaro ameaçaria a região, diz deputada chavista

Tania Díaz, ex-ministra de Hugo Chávez e atual vice-presidente da Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela, considera que triunfo do candidato do PSL à Presidência colocaria em risco a estabilidade da América Latina

Por Jamil Chade , Correspondente e Genebra
Atualização:

GENEBRA - A eventual vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pela presidência do Brasil preocupa o comando do regime chavista, na Venezuela. Deputados de Caracas e uma ex-ministra confirmaram a percepção do país vizinho de que a possível eleição do candidato de direita representa uma preocupação extra para o governo de Nicolás Maduro

Tania Díaz, vice-presidente da Assembleia Nacional Constituinte da Venezuela e ex-ministra das Comunicações no governo de Hugo Chávez, em 2010, foi uma das mais explícitas. Indicando que respeitaria a decisão nas urnas dos brasileiros ela afirmou, no entanto, que Bolsonaro poderia ser um fator de instabilidade para a região

Para política chavista, eleição de Bolsonaro ameaça a América Latina Foto: Bloomberg photo by Dado Galdieri.

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"O candidato tem uma posição agressiva contra a Venezuela", disse em entrevista em Genebra. Instantes depois, Tania declarou que Bolsonaro seria "um perigo para a região latino-americana". O grupo de parlamentares venezuelanos está na Suíça para reuniões na União Parlamentar Internacional e aproveitou o evento defender a ideia de que Caracas está "sob ataque internacional"

"Estamos preocupados com a posição do candidato brasileiro", disse a chavista, que representa a polêmica Assembleia Constituinte, formada só por políticos chavistas e alvo de críticas internacionais. "Não se trata apenas de uma preocupação em relação à Venezuela, mas com as populações afrodescendentes, com as mulheres. Estamos preocupados com o projeto humanista", disse a parlamentar. 

"Esperamos que os brasileiros tomem a melhor decisão e que seja pela paz e pela humanidade", disse Tania. Ao longo de anos, o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manteve importante linhas de crédito do BNDES para obras realizadas por empresas brasileiras na Venezuela

Em seu discurso diante da imprensa internacional, Tania Díaz insistiu que a Venezuela está "ameaçada por um plano de invasão militar por parte dos EUA". "Isso significaria a desestabilização da América Latina e a balcanização do país", alertou.

"Falam que somos uma ditadura. Qual é a base disso? Em 20 anos, tivemos 26 eleições e quase todas com participação de mais de 50% da população. Temos uma democracia participativa", garantiu.

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Sua avaliação se contrasta com os alertas emitidos pela ONU sobre a deterioração da democracia na Venezuela e uma situação de crise humanitária. A entidade tem denunciado graves violações de direitos humanos e responsabilizado diretamente Maduro pela situação. 

Para a parlamentar chavista, a crise é resultado do embargo econômico imposto sobre o país e que "impede a população e o governo de comprar remédios".

Saul Ortega, vice-presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Constituinte venezuelana e deputado aliado do chavismo desde 2000, também demonstrou sua preocupação com a possível vitória de Bolsonaro. 

Para ele, a crise de refugiados foi "induzida" por governos da região que "adotaram medidas para facilitar que venezuelanos deixassem o país". "Isso tudo faz parte da iniciativa para construir um conceito de crise humanitária e, assim, justificar uma agressão militar", disse. "O que estamos vendo é uma imigração induzida", insistiu. 

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O deputado também disse que até os incidentes violentos contra venezuelanos em Roraima teriam sido orquestrados. "Os ataques foram induzidos pelo Estado (brasileiro)", denunciou, sem apresentar qualquer tipo de provas. "Isso ocorreu depois da visita de Michel Temer à região", afirmou. 

Em agosto, moradores de Pacaraima, em Roraima, atacaram e expulsaram imigrantes venezuelanos. A violência começou depois que o dono de um restaurante da cidade foi espancado, supostamente por venezuelanos.

Ortega não poupou críticas aos governos sul-americanos, qualificando-os de "Cartel de Lima", numa referência ao Grupo de Lima, criado para coordenar uma posição regional diante da crise. 

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