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Vizinhos da Rússia resistem a afagos e ameaças

Disputa por influência em ex-repúblicas soviéticas marca reunião de Medvedev e Obama

Por Ellen Barry
Atualização:

Poucos projetos interessam mais à Rússia que restaurar sua influência sobre as ex-repúblicas soviéticas, cuja perda ainda dói tanto para muitos em Moscou. A disputa por territórios da Geórgia e Ucrânia levou as relações entre Moscou e Washington ao ponto mais baixo do período que se seguiu ao da Guerra Fria. E esse assunto é central nas conversações entre o presidente russo, Dmitri Medvedev, e o presidente americano, Barack Obama. A habilidade da Rússia para atrair vizinhos é duvidosa. Os métodos do Kremlin foram reativos e com frequência ameaçadores, combinando incentivos como energia barata ou desembolso de dinheiro, com ameaças de sanções comerciais e cortes de gás. A guerra na Geórgia parece ter ferido Moscou. Em vez de ser coagida à obedecer aos antigos patrões, a ex-república soviética parece ter se tornado ainda mais zelosa de sua soberania. Na chamada zona de interesses privilegiados da Rússia, o país é apenas um dos competidores. "Não há nenhuma lealdade", diz Oksana Antonenko, pesquisador do International Institute for Strategic Studies, de Londres. "A rivalidade é a dinâmica persistente. Eles precisam jogar, competir." A mais recente decepção veio no mês passado, quando o Quirguistão reverteu sua decisão de encerrar a permissão de uso pelas forças militares americanas da Base Aérea de Manas. Autoridades russas, incluindo Medvedev, anunciaram apoio à medida, mas a verdade é que Moscou queria o fechamento da base, um centro de trânsito essencial para a guerra no Afeganistão. Em fevereiro, Moscou parecia ter dado um golpe de mestre: com a promessa de US$ 2,15 bilhões em ajuda russa, o presidente quirguiz, Kurmanbek Bakiyev, declarou que os EUA teriam de sair de Manas. Os primeiros pagamentos russos - uma verba de emergência de US$ 150 milhões e um empréstimo a juros baixos de US$ 300 milhões - chegaram em abril, no momento em que Bakiyev iniciava sua campanha pela reeleição. Pouco tempo depois, anunciou um novo acordo com os EUA. Washington pagará mais que o triplo pelo arrendamento da base, aumentando o pagamento anual de US$ 17,4 milhões para US$ 60 milhões, além de mais US$ 50 milhões em contribuições para o governo. Não se sabe se o Kremlin cumprirá o restante de sua promessa. "Bakiyev manipulou os russos e depois nos manipulou", disse Alexander A. Cooley, professor de ciência política no Barnard College. Ainda assim, a Rússia não desistiu da estratégia: a Moldávia acaba de receber uma promessa de US$ 500 milhões, quatro semanas antes de sua eleição parlamentar.

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