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Voltam a esfriar as relações entre a Rússia e os EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

Há um ano, diante dos atentados terroristas, Putin e Bush decidiram fazer causa comum. Moscou judaria Washington a derrotar os talebans, enquanto os Estados Unidos, por sua vez, fechariam os olhos diante das operações russas no Cáucaso. Entre as duas potências, o degelo era absoluto. Será que esse gelo pode voltar a se formar? Pelo menos, o tom entre as duas capitais começa a ficar mais irritado. Com a mesma intensidade com que ontem Putin se associou a Bush, para esmagar os terroristas afegãos, hoje os russos estão incomodados com os projetos dos EUA em relação ao Iraque. A desconfiança dos russos provém menos de divergências ideológicas que de interesses econômicos. Um ataque contra o Iraque seria desastroso para os russos, por motivos de ordem financeira. O Iraque, que é um antigo aliado da União Soviética, contou com a simpatia da URSS e tem ainda para com Moscou uma dívida que não é pequena: US$ 8 bilhões. Isso não é tudo: há também o problema do petróleo. A Rússia confere grande importância ao "programa petróleo por comida" pois ele representa entre US$ 200 e US$ 400 milhões para as companhias russas. Esse fato confirma a importância do petróleo nos conflitos a respeito do Iraque. Alguns defendem a seguinte tese: se Washington mostra tal rancor contra Sadam Hussein, é porque pretende instalar em Bagdá outro governo, que seja mais dócil. Os Estados Unidos poderiam então se abastecer de petróleo junto ao Iraque e com isso diminuir sua dependência em relação à Arábia Saudita que além de ser criadouro e um financiador de terroristas, fornece petróleo para os EUA. Esses atritos a respeito do Iraque ocorrem em meio a uma série de escaramuças entre Moscou e Washington. Por exemplo, faz um ano que os americanos pedem à Rússia para deixar de oferecer tecnologia ao Iraque, à China e a outros países duvidosos. Ora, Moscou fez "ouvidos de mercador" e até intensificou essas transferências. Apesar dos avisos dos americanos, Moscou confirmou a futura implantação de um reator nuclear em Bushehr, no Irã, nas proximidades do Golfo Pérsico. Em julho, Putin assinou um contrato para vender mais cinco reatores. Moscou também confirmou sua intenção de fechar um acordo de cooperação de longo prazo com o Iraque, no valor de US$ 40 bilhões. O Kremlim vai assinar outros contratos de armamentos, particularmente com a China, mas também com o Irã, visando o fornecimento de mísseis antiaéreos e antinavais que poderiam ser usados ao largo de Taiwan e também no Golfo Pérsico. Para concluir: existe uma imagem que deixou os americanos literalmente indignados - o abraço que Putin deu, no final de agosto, por ocasião de sua visita ao Extremo-Oriente russo, ao ditador norte-coreano, Kim Jong-il, ou seja, o chefe de um dos piores "estados bandidos", no entender da Casa Branca.

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