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Voto do Brasil irrita rebeldes em Benghazi

Rebeldes líbios criticam governo brasileiro por abstenção no Conselho de Segurança

Foto do author Lourival Sant'Anna
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

BENGHAZI - O comboio leal ao ditador Muamar Kadafi, que se dirigia para Benghazi quando foi destruído pelos caças-bombardeiros franceses na noite de sábado, estendia-se por uma faixa de 30 quilômetros na saída oeste da "capital rebelde". Os benghazis visitam agora esse cemitério de veículos militares e têm certeza daquilo que os esperava naquela noite: seriam trucidados.  

 

 

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"Veja o presente que Kadafi trazia para Benghazi", brinca Najib Shekey, engenheiro eletricista de 30 anos. Sua sensação é a de que todos os habitantes da cidade foram salvos pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy.

Quando ficam sabendo que o repórter é brasileiro, muitos balançam a cabeça em sinal de desaprovação e perguntam por que o Brasil se absteve na votação do Conselho de Segurança da ONU que autorizou a zona de exclusão aérea.  

Os líbios são fanáticos por futebol e, por isso, têm - ou tinham - apreço pelo Brasil. Agora, tentam entender por que esse apreço, na sua interpretação, não é retribuído. "O governo brasileiro apoia Kadafi", constata Shekey. "Deve ser por causa de dinheiro. Talvez vocês tenham medo de que seus investimentos sejam prejudicados." Bons e maus países

 

Mohamed Sherif, de 50 anos, prefere lembrar que há uma diferença entre o governo e o povo de um determinado país . "O governo brasileiro é mau, mas o povo é bom." Abdul Fatah, professor de geografia de 32 anos, tira lições parecidas da votação no Conselho de Segurança da ONU. "China, Rússia, Brasil, Alemanha e Índia são maus", afirma ele, enumerando os cinco países que se abstiveram na votação, que não teve votos contra. "Inglaterra e EUA são bons. E Sarkozy é o número 1." França e Inglaterra protagonizaram a preparação do esboço da resolução e pressionaram por sua aprovação no Conselho de Segurança da ONU, na quinta-feira. Dois dias depois, Paris foi anfitriã de uma reunião que mobilizou países árabes e ocidentais para acertar os últimos detalhes da intervenção militar na Líbia. O dentista Mortala Bujazi, de 27 anos, tem uma explicação mais elaborada. "Brasil e Índia não entendem o que acontece aqui. Vocês estão confusos, acham que a oposição pegou em armas para lutar contra o governo. Não é isso", diz. "Todos os líbios rejeitam Kadafi. A luta é entre o povo líbio e a família de Kadafi."Zona de exclusão aérea

 

O estudante de engenharia Monir Kraimesh, de 23 anos, que mora na parte sudoeste de Benghazi, conta que viu as forças leais ao coronel Kadafi aproximando-se da cidade. "Achei que destruiriam tudo, que todos nós morreríamos." Kraimesh e todos os habitantes da região de Benghazi com quem o Estado conversou acreditam que a zona de exclusão aérea seja muito importante para evitar o avanço das tropas leais a Kadafi. Para livrar-se dele, entretanto, os opositores precisarão de mais apoio da comunidade internacional. "Somos mais de 6 milhões. Eles são apenas uns 10 mil. O que eles têm são armas pesadas", afirma Mohamed Abdullah, um engenheiro de 36 anos. Caça a Kadafi

 

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Ontem, moradores de Jarrotha, vilarejo a 30 quilômetros de Benghazi, onde os veículos foram destruídos por um míssil, colocaram a cabeça de uma cabra na grade do motor do caminhão. "Se nos derem armas, arrancaremos a cabeça de Kadafi, como a dessa cabra", garantiu Abdullah.

 

 

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