Washington reduz ajuda à dissidência em países hostis

Novas regras da Usaid pretendem evitar programas arriscados, como o 'Twitter cubano' e o envio de jovens a Cuba para recrutar opositores

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Por WASHINGTON
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Associated Press

revelou ontem que a agência americana de ajuda humanitária (Usaid) prepara novas regras internas para pôr fim a missões secretas em países hostis - como o "Zunzuneo", espécie de Twitter criado pela Usaid, que funcionava por mensagens de texto de celulares.

No mesmo dia, o New York Times publicou o segundo editorial em menos de um mês pedindo a normalização das relações entre Washington e Havana. "Os EUA deveriam trabalhar para promover uma maior liberdade na ilha de 11 milhões de habitantes e tentar afrouxar o punho de ferro de um dos governos mais repressivos do mundo. Para isso, deveriam traçar uma nova estratégia, a partir das lições de quase 20 anos de tentativas fracassadas de desestabilizar o regime dos Castro", diz o editorial do NYT.

De acordo com o jornal, "o dinheiro americano ofereceu alimentos e conforto para alguns parentes de presos políticos, mas contribuiu mais para estigmatizar do que para ajudar os dissidentes". "Talvez o mais importante seja a necessidade de Washington reconhecer que o máximo que poderá esperar realizar será influenciar positivamente a evolução de Cuba rumo a uma sociedade mais aberta", conclui o jornal.

Revelado em abril pela AP, o "Twitter cubano" financiado pelo governo dos EUA teve como objetivo fomentar o diálogo entre a dissidência ao castrismo e desestabilizar o regime de Havana.

O Zunzuneo entrou no ar em 2010, paralelamente ao início das reformas conduzidas pelo presidente Raúl Castro, que possibilitaram o maior acesso dos cubanos à telefonia celular. Mais de 40 mil cubanos usaram o serviço, que foi suspenso em 2012. O governo de Cuba qualificou o mecanismo de "estratégia subversiva".

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Em agosto, a AP revelou que o governo dos EUA enviou mais de uma dezena de jovens latino-americanos a Cuba para pôr em prática um operação clandestina com o objetivo de provocar mudança política na ilha socialista. A serviço de Washington e acobertados por programas de saúde e estudos - ou até disfarçados de turistas -, costa-riquenhos, peruanos e venezuelanos tentaram recrutar cidadãos de Cuba para um movimento anticastrista.

O programa começou em outubro de 2009 e, mesmo com a prisão do funcionário terceirizado da Usaid, Alan Gross, em dezembro daquele ano, por fornecer equipamentos de comunicação e tecnologia para cubanos, os EUA continuaram mandando os inexperientes latino-americanos a Cuba. Para arriscar-se, esses "espiões" ganhavam apenas US$ 5,41 por hora de serviço.

Cuidado.

As novas regras da Usaid assemelham-se a um projeto de lei que começou a tramitar no Senado americano, em meados deste ano, segundo fontes do governo americano familiarizadas com as discussões, mas que não estão autorizadas a falar publicamente sobre o assunto.

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A legislação proibiria a Usaid de gastar dinheiro com fomento à democracia em países que rejeitam a assistência da agência, onde seus funcionários não tenham sido contratados diretamente e em situações em que o organismo teria de passar por "esforços excessivos para proteger beneficiários e participantes do programa".

As fontes do governo afirmaram que os esforços de alto risco para fomentar democracia deverão ser transferidos para outro braço do Departamento de Estado e do National Endowment for Democracy, uma organização sem fins lucrativos financiada pelo governo dos EUA. Tal mudança tornaria impossível que a Usaid pusesse em prática programas como o Zunzuneo e o envio de estudantes inexperientes para estimular uma contrarrevolução.

Riscos de segurança.

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Em comunicado emitido no domingo, a Usaid afirmou que continuaria a operar programas pró-democracia em "ambientes politicamente restritivos" e tem o objetivo de ser transparente. No entanto, a agência declarou que novas regras levariam em conta riscos de segurança - o que se alinha com o projeto de lei que impediria o trabalho da Usaid em países hostis que rejeitem o auxílio do organismo. O comunicado da agência afirma que suas novas regras ainda não foram finalizadas.

/ AP e NYT

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