Xenofobia preocupa governo peruano 

Problema preocupa autoridades peruanas, migratórias e a comunidade venezuelana no Peru

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Por Luiz Raatz
Atualização:

Embora em índices menores que no vizinho Equador, a xenofobia já preocupa autoridades peruanas, migratórias e a comunidade venezuelana no Peru. De acordo com uma pesquisa feita pelo instituto Ipsos, 55% dos moradores de Lima são contra a chegada de mais venezuelanos ao país. 

Jonathan Terán, refugiado venezuelano em Lima Foto: Luiz Raatz/Estadão

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A cidade, segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM), recebe 65% dos imigrantes venezuelanos que chegam. A maioria aponta o medo de perder o emprego e o fato de os refugiados aceitarem trabalhar por salários menores como motivo para ser contra receber os que fogem do chavismo. 

Jonathan Terán saiu de Barinas, terra natal de Hugo Chávez, com mulher e filho pequeno e o sonho de chegar à Argentina.

Atravessou a pé, de carona e com o pouco dinheiro que conseguia com bicos, boa parte de Venezuela, Colômbia e Equador até chegar a Tumbes, no norte do Peru, onde encontrou um abrigo para refugiados. Ali, um grupo de peruanas emboscou sua mulher para agredi-la com paus e pedaços de pedra. Acharam que ela era uma venezuelana que havia “roubado” o marido de uma peruana da cidade. 

“Confundiram ela com outra moça e começaram a agredi-la. Deixaram uma cicatriz em seu rosto”, contou ao Estado Terán, que vive em um abrigo de Lima mantido pela Igreja em parceria com a ONU. “Minha mulher tem muito medo. Não quer nem ouvir falar da possibilidade de viver aqui depois do que aconteceu.”

Iris, a mulher, não quer falar nem ser fotografada. Apenas brinca no abrigo com o filho do casal, de pouco mais de 1 ano. A magreza é nítida nos dois. “Já não conseguíamos mais sobreviver nem ter dinheiro para comer”, diz Terán. “Saímos da Venezuela por isso.”

Com direito a mais cinco dias de albergue – o máximo permitido é 15 dias –, Terán e a mulher não sabem como será o futuro. Viver no Peru não é uma opção, mas ambos não têm recursos para seguir viagem rumo ao Chile. “Está ficando difícil encontrar trabalho aqui”, disse o mecânico. “A documentação também tem sido complicada.”

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Tentativa de estupro

Veronika Guerra é garçonete e trabalha num restaurante venezuelano no bairro de Miraflores, em Lima. No Peru há um ano, ela também já foi vítima da violência. No ano passado, acordou cedo para tirar a permissão de permanência temporária, o PTP, exigida pelo governo peruano para viver no país. Sabendo da má fama de alguns taxistas, associados por trapaças, roubos e agressões, principalmente contra mulheres, ela optou por um motorista do aplicativo Uber. Em vão. 

“Ele seguiu um caminho diferente do que deveria e tentou me roubar. Quando viu que eu não tinha dinheiro, tentou me violentar”, disse. “Comecei a gritar e um carro que passava parou para ver o que estava acontecendo. Foi a minha sorte.”

Indicado pelo líder opositor Juan Guaidó para ser seu representante diplomático em Lima, Carlos Scull reconhece a xenofobia como um dos grandes problemas da comunidade venezuelana no Peru. “Temos organizado programas em parceria com o governo para orientar a comunidade local a se capacitar para buscar empregos e ter maior segurança”, disse Scull ao Estado.

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