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Zelaya completa um mês na embaixada e impasse permanece

Para analista, impasse no país pode se aprofundar ainda mais no mês que vem.

Por Bruno Accorsi
Atualização:

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, completa nesta quarta-feira um mês na Embaixada do Brasil na capital do país, Tegucigalpa, sem sinais claros de que o impasse político no país centro-americano esteja próximo do fim. Nas últimas semanas, houve vários momentos em que negociações envolvendo representantes do líder deposto e do presidente interino, Roberto Micheletti, estavam progredindo e Zelaya poderia regressar ao poder antes das eleições presidenciais previstas para o dia 29 de novembro. Mas nenhum dos sinais animadores se confirmou. Muitos, tanto em Honduras como entre a comunidade internacional, julgavam que a chegada a Honduras de uma missão de alto nível da Organização dos Estados Americanos (OEA) em Honduras, no início deste mês, era um sinal de que o fim da crise estava próximo. Na ocasião, o encontro, transmitido ao vivo pela TV, entre os representantes da OEA e o presidente Micheletti deixou poucas dúvidas de que o líder interino estaria disposto a aceitar o regresso de Zelaya ao poder. A OEA se despediu de Honduras no dia 8 de outubro sem haver alcançado um acordo, mas louvando o fato de que finalmente a facção governista e o grupo pró-Zelaya haviam dado início a discussões sem a presença de intermediários. Divergências As negociações entre os dois grupos, que, de início pareceram caminhar de forma tranquila, logo esbarraram em novas divergências - algumas até mesmo internas, como quando o líder sindical Juan Barahona, negociador de Zelaya, decidiu abandonar as reuniões após o líder deposto ter aceitado que não promoveria mais uma Constituinte se regressasse ao poder. Zelaya instituiu um prazo, o dia 15 de outubro, para que um acordo fosse alcançado. Mas a data foi solenemente ignorada pelo governo interino, que trouxe à mesa de negociações uma nova exigência: a de que o retorno de Zelaya fosse decidido pela Suprema Corte do país. O presidente deposto, que quer que o Congresso analise o tema, julgou isso inaceitável e caracterizou as negociações como quase mortas. "Todos esperam que o impasse seja rompido em um dia, em alguns dias ou algumas semanas. Mas tudo acaba voltando à estaca zero", afirma Riordan Roett, diretor do programa das Américas da Universidade Johns Hopkins, de Washington. "Claramente, o clero, o Exército e o governo Micheletti são contra o regresso de Zelaya. E a oposição tem que aceitar uma série de exigências, se ele vier a regressar. Você tem fortes personalidades em disputa em um país pouco sofisticado, onde personalidades contam mais do que políticas.'' Para Roett, o impasse poderá se aprofundar ainda mais se o líder interino de Honduras seguir firme em sua estratégia de tentar ganhar tempo até a realização da eleição presidencial, que a comunidade internacional já disse que não irá reconhecer se Zelaya não for reimpossado. "Se as condições atuais perdurarem, vai ser muito difícil que o presidente eleito seja visto internacionalmente como um líder independente e legítimo", diz o analista. Histórico Zelaya foi deposto em 28 de junho, quando um grupo de soldados invadiram o Palácio Presidencial de Tegucigalpa, tiraram-no da cama e o obrigaram a embarcar, ainda de pijamas, para a Costa Rica. A ação que levou à queda de Zelaya foi a convocação de uma consulta popular, marcada para o dia da deposição do presidente, que indagaria se os eleitores aceitariam a formação de uma Asembleia Constituinte. Segundo os rígidos termos da Constituição do país, a carta hondurenha não pode ser alterada mediante plebiscitos e o presidente do país só pode exercer um mandato. A oposição ao então presidente julgou que a consulta popular era uma manobra do então presidente de se perpetuar no poder. O líder deposto regressou a Honduras clandestinamente em 21 de setembro e se refugiou na representação brasileira em Tegucigalpa juntamente com outras 60 pessoas. Após manifestantes pró-Zelaya terem feito protestos em frente à Embaixada, o governo de Honduras criou um bloqueio contra a representação brasileira exercido por soldados e policiais. Unindo extremos A deposição de Zelaya foi considerada um golpe pela comunidade internacional, de forma quase unânime, unindo desde o líder da Venezuela, Hugo Chávez, até o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. O conflito acabou afetando até mesmo a indicação de representantes dos Estados Unidos para altos postos diplomáticos. O senador republicano Jim DeMint, que apoia o governo Micheletti e já viajou a Honduras para expressar seu apoio às atuais autoridades do país, bloqueou no Comitê de Relações Exteriores do Senado a nomeação de Arturo Valenzuela, como secretário-assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental do Departamento de Estado - o mais alto cargo para as Américas na diplomacia americana. Ele também vetou a indicação de Thomas Shannon, que deverá ser substituído por Valenzuela e foi indicado por Obama para ser o próximo embaixador dos Estados Unidos no Brasil. Em entrevista à revista Foreign Policy, nesta semana, o senador DeMint disse que está disposto a liberar as duas indicações, mas que só o fará assim que os Estados Unidos indicarem que estão dispostos a aceitar o resultado da eleição hondurenha de 29 de novembro. Mas o governo americano já reiterou que só acatará o pleito se Zelaya for reconduzido à Presidência. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. 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