
25 de julho de 2009 | 08h33
Em um ato simbólico, o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, entrou brevemente em solo hondurenho, o que gerou uma reação negativa dos Estados Unidos e levou o governo interino a ampliar o toque de recolher na região.
Cercado por dezenas de simpatizantes, Zelaya, que está na Nicarágua, cruzou a fronteira e ficou apenas alguns minutos no país.
Ele não foi detido como havia ameaçado o governo militar interino. Mas o gesto foi considerado pela secretária americana de Estado, Hillary Clinton - até aqui uma aliada de Zelaya -, como uma imprudência.
O correspondente da BBC Stephen Gibbs, que testemunhou o episódio, disse que os militares, aparentemente indecisos sobre como reagir, recuaram 20 metros à medida que Zelaya cruzava a linha que marca a divisa entre os dois países.
O evento durou menos de 30 minutos. Zelaya posou ao lado de um sinal onde se lia "Bem-vindo a Honduras" e voltou para a Nicarágua.
"Não tenho medo, mas também não sou maluco", disse o presidente deposto ao canal de TV estatal venezuelano Telesur. "Poderia haver violência e eu não quero ser a causa."
Zelaya, que foi deposto no dia 28 de junho, já havia tentado voltar ao país no dia 5 de julho, mas o avião que o trazia foi impedido pelos militares de pousar no aeroporto da capital hondurenha, Tegucigalpa.
Toque de recolher
O gesto levou o governo interino de Honduras a reagir, diminuindo a importância do gesto de Zelaya mas ampliando, ao mesmo tempo, o toque de recolher na fronteira.
Os moradores das regiões fronteiriças devem agora permanecer em casa entre o meio-dia e as seis da manhã, horários locais, para "manter a calma" nas ruas.
Entretanto, durante o ato de Zelaya, milhares de simpatizantes do presidente deposto ignoraram o cessar-fogo e se reuniram perto da fronteira, levando a polícia a usar gás lacrimogêneo.
Na mesma hora, simpatizantes do governo interino se reuniam na cidade de San Pedro Sula, no norte do país, exibindo cartazes com os dizeres: "Zelaya pode voltar, mas para a cadeia".
O vice-ministro de Segurança interino, Mario Perdomo, procurou diminuir a importância do gesto de Zelaya.
"Ele fez um show: colocou um pé em Honduras e saiu", disse. "E foi em uma zona morta da fronteira, o que nós toleramos."
Nos Estados Unidos, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, classificou o ato de Zelaya como imprudente.
"O esforço do presidente Zelaya para chegar à fronteira é temerário", disse ela. "Não contribui para o esforço mais amplo de restaurar a democracia e a ordem constitucional na crise hondurenha."
Negociações
Negociações para pôr fim à crise terminaram há duas semanas sem resultado na Costa Rica . A mediação da crise está a cargo do presidente costarriquenho, Oscar Arias.
Zelaya voltou a enfatizar que está disposto a voltar ao diálogo.
Na sexta-feira, o presidente interino hondurenho, Roberto Micheletti, convidou outros países para participar das conversas.
"Queremos convidar os governos de Alemanha, Bélgica, Canadá, Colômbia, Panamá e Japão para que se juntem como observadores do diálogo que acontece na Costa Rica", disse, em pronunciamento lido à imprensa no Palácio Presidencial.
A crise política eclodiu depois que Zelaya tentou fazer uma consulta pública para perguntar se os hondurenhos apoiavam suas medidas para mudar a Constituição.
A oposição era contra a proposta dele de acabar com o atual limite de apenas um mandato por presidente, o que poderia abrir caminho para a reeleição. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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