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Zelaya viaja para Costa Rica e acusa rival de assassinatos

Líder deposto declara que Micheletti é um ''gorila'' e diz que só admite voltar a Honduras como presidente; adversários reúnem-se hoje pela primeira vez desde o golpe do dia 28

Por Gustavo Chacra
Atualização:

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, atacou ontem duramente o presidente autoproclamado, Roberto Micheletti, um dia antes de os dois se reunirem em San José, capital da Costa Rica, num encontro que será mediado pelo presidente costa-riquenho, Oscar Arias. Micheletti é um "gorila" que cometeu "assassinatos, violação dos direitos humanos e traição", afirmou Zelaya em entrevista a uma rede pública de TV do Chile. Apesar da declaração, feita na véspera do encontro - marcado graças à pressão dos EUA -, analistas consideram o diálogo entre os dois adversários um avanço se comparado à retórica de hostilidade dos dias posteriores ao golpe. No entanto, Zelaya disse ontem que exigirá durante o encontro a remoção do governo autoproclamado em 24 horas. Micheletti insiste que não discutirá hoje a possibilidade de retorno de Zelaya como presidente a Tegucigalpa. O governo autoproclamado afirma que, se voltar, Zelaya terá de enfrentar a Justiça, apesar de a Suprema Corte ter acenado esta semana com a possibilidade de uma anistia política para o presidente deposto. Já Zelaya diz que não existe nenhuma possibilidade de acordo se a presidência não lhe for restituída. Caberá a Arias conduzir a difícil negociação. Ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1987 pelo papel desempenhado nos acordos de paz para as guerras civis da América Central nos anos 80. MEIO-TERMO Em Tegucigalpa, deputados afirmam que os dois lados devem fazer concessões para que se chegue a um acordo. A saída, no fim do processo, seria a antecipação das eleições, independentemente de Micheletti ou de Zelaya estar no cargo. Os candidatos já estão definidos desde o ano passado e a votação seria monitorada por organismos internacionais. Ontem, centenas de simpatizantes de Zelaya interromperam temporariamente o tráfego na estrada que liga Tegucigalpa ao leste de Honduras, na fronteira com a Nicarágua. Xiomara Castro, mulher do presidente deposto, liderou a marcha pelo segundo dia seguido. Desde a noite do golpe, ela estava na casa do embaixador americano em Tegucigalpa, Hugo Llorens, temendo a perseguição dos militares. Zelaya foi deposto no dia 28 por militares e colocado em um avião para a Costa Rica. O governo autoproclamado acusa-o de desrespeitar a Constituição com o objetivo de permanecer no poder. O impeachment não está previsto na Constituição de Honduras. Mas a deposição foi considerada um golpe. No domingo, no auge da crise, um avião que levava o presidente deposto de volta a Honduras foi proibido de aterrissar no aeroporto de Tegucigalpa.

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