Zuma pede desculpas por sexo sem camisinha

O ex-vice-presidente da África do Sul foi inocentado da acusação de estupro, mas provocou revolta entre ativistas da luta contra a aids, ao admitir não ter usado preservativo

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Por Agencia Estado
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Um dia após ser inocentado da acusação de estupro, o ex-vice-presidente da África do Sul Jacob Zuma pediu nesta terça-feira desculpas à população por ter tido relações sexuais com uma mulher portadora do vírus HIV sem ter usado preservativo, mas negou que tenha prejudicado o programa de prevenção à aids de seu país. Na segunda-feira, Zuma foi absolvido da acusação de ter estuprado uma soropositiva de 31 anos, ativista da luta contra a aids e amiga de sua família. A Justiça considerou que o sexo entre os dois foi consensual, e não um estupro, mas o reconhecimento de ter tido relações sem proteção provocou a ira de ativistas da luta contra a aids, que disseram que ele é um péssimo exemplo. Antes da acusação de estupro e de um caso de corrupção que será julgado em julho, Zuma era visto como provável sucessor do atual presidente, Thabo Mbeki. No pronunciamento desta terça-feira, ele prometeu fazer de tudo para reerguer sua carreira política. "Admito que errei ao fazer sexo sem proteção. Eu deveria ter agido com mais responsabilidade. Peço desculpas a todas as pessoas deste país", disse durante uma entrevista coletiva que foi transmitida ao vivo por emissoras de rádio e TV. Zuma também disse que nunca rejeitou qualquer tarefa no Congresso Nacional Africano (CNA) e que estará disponível se seu partido o nomear candidato à sucessão de Mbeki, em 2009. Ele também avisou que pretende recuperar seu cargo de vice-presidente, do qual foi demitido após as acusações de corrupção e fraude, e mais tarde a de estupro. O ex-vice-presidente se declarou inocente de todas as acusações, que segundo ele, são resultado de "conspiração de forças que pretendem arruinar sua carreira política". "A liberdade de expressão foi usada como instrumento para acabar com a imagem de uma pessoa e prejudicar um processo judicial", disse, criticando a cobertura do caso. Zuma também disse que a mulher que o acusou, cuja identidade é mantida em sigilo, não deve ser difamada. Ela está resguardada por um programa de proteção a testemunhas. Segundo as considerações do juiz, "traumas do passado podem tê-la feito pensar que qualquer comportamento sexual é ameaçador". Entretanto, os protestos de aliados de Zuma do lado de fora do tribunal, e também as agressivas investigações sobre o histórico sexual da mulher, levantaram preocupação de que outras mulheres temerão denunciar futuros casos de estupro. Zuma, que já chefiou a Comissão Sul Africana de Prevenção à Aids, disse durante o julgamento que tomou uma ducha após fazer sexo sem proteção, acreditando que isso poderia reduzir o risco de infecção. Especialistas disseram que ele demonstrou ignorância chocante sobre como o vírus HIV é transmitido. Seis milhões de pessoas estão infectadas com o HIV na África do Sul. Ativistas dizem que seu testemunho poderia prejudicar os esforços para prevenir a doença em um país onde o presidente já chegou a questionar a ligação entre HIV e Aids e onde o ministro da Saúde já resistiu à adoção de medicamentos anti-retrovirais. Zuma diz que tinha muito do que se desculpar, mas que agora pretendia seguir em frente. "Eu não sou um anjo. Todos cometemos erros", concluiu.

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