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A floresta está caindo mais rápido no Brasil

Parte da Amazônia brasileira perdeu mais de 3.445 quilômetros quadrados de floresta desde a chegada à presidência do populista Jair Bolsonaro

Por Leticia Casado e Ernesto Londoño
Atualização:

BRASÍLIA - A destruição da floresta tropical da Amazônia, no Brasil, vem aumentando rapidamente desde que a posse do novo presidente de direita, e o seu governo vem freando gradativamente os esforços empreendidos contra a derrubada ilegal de árvores, a abertura de fazendas e a mineração.

O presidente Jair Bolsonaro do Brasil acredita que outros países querem explorar a Amazônia, e não preservá-la. Foto: Mauro Pimentel/AFP/Getty Images

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Parte da Amazônia brasileira perdeu mais de 3.445 quilômetros quadrados de floresta desde a chegada à presidência do populista Jair Bolsonaro, em janeiro deste ano, ou seja, um aumento de 39% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo a agência governamental que acompanha o desmatamento. Bolsonaro minimizou os números relativos ao desmatamento, e chamou de “mentiras” os dados do seu próprio governo.

Uma análise dos registros públicos feita pelo jornal The New York Times constatou que as ações da principal agência ambiental brasileira - como multas, advertências e apreensão ou destruição de equipamentos ilegais em áreas protegidas - caíram 20% nos seis primeiros meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2018. A queda significa que vastos trechos da floresta poderão serarrasados sem que as autoridades oponham grande resistência.

“Enfrentamos o risco de um desmatamento descontrolado na Amazônia”, escreveram em maio oito ex-ministros do Meio Ambiente do Brasil em uma carta conjunta, afirmando que o país precisa fortalecer suas medidas de proteção ambiental.

A postura do governo Bolsonaro provocou fortes críticas dos líderes europeus, introduzindo um elemento de atrito no acordo comercial concluído em junho entre a União Europeia e um bloco de quatro países, entre eles o Brasil.

Durante uma recente visita, o ministro da Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha, Gerd Müller, afirmou que a proteção da Amazônia é um imperativo global, principalmente considerando o papel vital da floresta tropical na absorção e armazenamento do dióxido de carbono, essencial para a redução do aquecimento global, conforme é o objetivo da iniciativa. Quando as árvores são cortadas, queimadas ou arrancadas com tratores, o dióxido de carbono volta diretamente para a atmosfera.

Alemanha e Noruega também contribuem para o fundo de conservação da Amazônia com $ 1,3 bilhão, mas o governo Bolsonaro questionou a sua eficácia.

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“Sem as florestas tropicais, não será possível resolver a questão do clima”, disse Müller.

Bolsonaro descartou as críticas internacionais, afirmando que os apelos para a preservação de grandes regiões do Brasil fazem parte de um complô global com a finalidade de prejudicar o desenvolvimento do seu país. No mês passado, ele acusou lideres europeus de pressionarem para uma maior conservação da Amazônia porque eles próprios esperam desenvolvê-la. “O Brasil é como uma virgem que todo pervertidode fora deseja”, afirmou. “A Amazônia é nossa, não de vocês”.

Em anos passados, o Brasil procurouapresentar-se como um líder da proteção da Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, e do combate ao aquecimento global. De 2004 e 2012, o país criou novas áreas de preservação, aumentou o monitoramento e retirou os créditos governamentais de produtores rurais apanhados arrasando áreas protegidas. Esta medida contribuiu para atingir o menor patamar de desmatamento desde que começou a coleta de dados.

Mas com a recessão econômica de 2014 em diante, o país passou a depender mais das commodities agrícolas que produz - carne e soja, justamente os fatores do desmatamento - e do poderoso lobby rural. A limpeza da terra aumentou novamente. Bolsonaro prometeu acabar com as barreiras remanescentes ao desenvolvimento de terras protegidas. E também se referiu de maneira debochada ao trabalho da agência do meio ambiente, que ele experimentou em primeira mão.

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Em 2012, agentes ambientais interceptaram um pequeno barco pesqueiro em uma reserva ecológica em que viajava Bolsonaro, então deputado federal. José Augusto Morelli, o agente encarregado, disse que Bolsonaro se recusou a sair e foi multado.

Ele jamais pagou a multa, rescindida logo depois que ele prestou juramento como presidente. No final de março, Morelli foi rebaixado de posto, decisão que ele considera um ato de retaliação pela multa.

Agora o ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, quer criar um mecanismo que confere a um painel do governo o poder de reduzir ou suspender as multas ambientais, o que preocupa as autoridades de governos anteriores, para as quais esta medida enfraquecerá ainda mais a aplicação da lei.

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Outros funcionários dos altos escalões do governo Bolsonaro reagiram ao aumento do desmatamento com uma mescla de desmentidos e atitudes de defesa. Onyx Lorenzoni, o chefe de gabinete, combate o que ele chama de tentativas externas de impor uma política ambiental ao Brasil.

“Não somos ingênuos”, afirmou Lorenzoni. “Há uma visão por aí, patrocinada por organizações não governamentais, que relativiza a soberania do Brasil em relação à Amazônia”.

Mas, em um recente encontro com os jornalistas ele advertiu: “Aqui vai uma pequena mensagem: ‘Não brinquem com a gente!”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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