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A transformação do rosa: da fragilidade a símbolo político

Exposição convida o público a repensar a conotação da cor

Por Ruth La Ferla
Atualização:

O rosa traz impacto. Antes considerado uma tonalidade brincalhona de frágeis bailarinas, chicletes sabor tutti-frutti e roupas de boneca, o rosa ganhou força recentemente, assumindo ares de protesto sociopolítico, transgressão e erotismo livre.

Essa mensagem emerge com força inesperada do Fashion Institute of Technology, em Nova York, numa exposição que explora as variações de uma cor conhecida há séculos, alternando em tons que vão do discreto ao claramente subversivo, da alta classe à boca do lixo, passando por tudo que há entre esses extremos.

O lado mais sensual do rosa numa imitação do vestido usado por Janelle Monáe em seu videoclipe “Pynk” Foto: Jackie Molloy para The New York Times

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O rosa é uma cor em transição - bonito e inquietante - na exposição inaugurada em 7 de setembro. Sua atmosfera kitsch certamente ocultou parte do seu impacto.

“Essa é uma das razões pelas quais as pessoas não levam o rosa a sério", disse Valerie Steele, diretora do museu do instituto de moda. Ela insiste para que repensemos o rosa.

“Na verdade, é a sociedade que determina o significado de uma cor", disse ela, lógica que é sublinhada na exposição e no livro de Valerie, “Pink: The History of a Punk, Pretty, Powerful Color” [Rosa: história de uma cor punk, bela e poderosa].

O rosa foi assumido como afirmação de uma feminilidade orgulhosa Foto: Jackie Molloy para The New York Times

Tonalidade multidimensional de conotações muito variadas, o rosa não mais é “apenas uma cor sem graça reservada às meninas, e sim o rosa-choque do protesto, uma expressão de toda uma variedade de ideias mais complicadas”.

A exposição demonstra o que ela quer dizer, com o rosa abrindo mão das associações mais castas e melosas em favor de algo mais desafiador, uma cor de confronto e, às vezes, uma expressão de erotismo.

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O transgressivo impacto do rosa é produto de um longo processo. Na cultura ocidental, a cor, em variações que vão do mais fraco ao quase magenta, foi adotada pela nobreza, e teve sua popularidade aumentada no final do século 14, quando novas tinturas vindas da Índia e de Sumatra possibilitaram tonalidades mais ricas.

Em meados do século 18, Madame de Pompadour transformou um rosa mais contido no auge da moda. Naquela época, o rosa era uma cor para ambos os sexos.

Um desfile cor de rosa no museu do Fashion Institute of Technology, em Nova York Foto: Jackie Molloy para The New York Times

Mas, já em meados do século 19, os homens tinham em geral cedido o rosa a sua irmãs e mulheres. Os tempos mudam, e, com eles, o significado do rosa.

A cor se converteu num símbolo político, e o infame triângulo rosa da era nazista foi apropriado pelos defensores dos direitos dos gays como símbolo de protesto. O rosa foi adotado por uma nova geração de feministas como uma afirmação da feminilidade orgulhosa quando, no dia da posse do presidente Trump, em 2017, mulheres foram a Washington em grandes números, usando chapéus improvisados.

Os marqueteiros criaram uma série de bens de consumo, incluindo mobília escandinava e a marca Fenty, da cantora Rihanna, que misturaram um clima de elegância com a agressividade da concorrência.

“Em termos de seus novos significados, o rosa adquiriu o carisma e a complexidade do preto", disse Valerie. “Depois que a cor é interpretada como andrógina e política, apelando aos jovens de todos os sexos e raças é impossível voltar atrás", afirma.

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