Nepal adia novas regras de segurança para alpinistas no Everest

Governo anunciou mudanças destinadas a eliminar alpinistas inexperientes e reduzir o número de pessoas no Everest

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Por Kai Schultz e Bhadra Sharma
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NOVA DÉLI - As imagens chocaram e irritaram o mundo: centenas de alpinistas presos perto do cume do Monte Everest, ligados a uma única linha de segurança em uma cordilheira com uma queda de vários milhares de metros, com seus cilindros de oxigênio se esvaziando e levando a morte de algumas pessoas por falta de oxigenação no cérebro.

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O engarrafamento de alpinistas durante a temporada de escalada da última primavera no hemisfério norte, em uma das montanhas mais altas e mortais do mundo, evidenciou o que alpinistas veteranos vêm dizendo há anos: ego, escaladores inexperientes, pagamentos exorbitantes e má administração crônica - incluindo a prática perigosa de cortar custos em equipamentos de segurança - transformaram o Everest em um circo a quase nove mil metros.

Depois que a temporada terminou, o governo do Nepal anunciou regras de segurança robustas destinadas a eliminar alpinistas inexperientes, reduzir o número de pessoas no Everest e impedir outro engarrafamento, que foi responsabilizado por algumas das 11 mortes em 2019.

Mas agora, o governo diz que as novas regras não entrarão em vigor a partir da próxima temporada de escalada, que começa em abril e dura até maio. Kedar Bahadur Adhikari, secretário do Ministério do Turismo do Nepal, disse que as regras, que foram apresentadas em agosto passado, ainda não receberam aprovação de vários escritórios do governo.

Nepal recebe US$ 11 mil por alpinista que deseja escalar o pico de 9 mil metros. Foto: Rizza Alee/Associated Press

Ele disse que as autoridades também precisam verificar se as operadoras de expedição nepalesa "concordam com algumas restrições", embora os alpinistas digam que o envolvimento das empresas nas negociações deve ser limitado por causa de suas participações financeiras. Santa Bir Lama, presidente da Associação de Montanhismo do Nepal, um grupo independente de escalada que ajudou a elaborar os novos regulamentos de segurança, disse que o desespero financeiro do Nepal é uma das principais razões por trás do atraso.

Ele disse que as autoridades poderiam aprovar as novas medidas em algumas semanas, se quisessem, mas que as permissões de escalada dadas pelo governo - que custam US$ 11 mil por pessoa para o Everest - fornecem um fluxo de caixa crucial para o Nepal, um dos países mais pobres da Ásia. "Se algo der errado, o ministro do Turismo deve ser pessoalmente responsável", disse Lama. "Ninguém quer vir ao Nepal para morrer."

No lado norte da montanha, que abrange território chinês, há normas de segurança mais rígidas. Mas existem poucos limites sobre quem pode obter uma permissão para escalar o Everest do Nepal, de onde partem a maioria dos alpinistas. No ano passado, as autoridades concederam um recorde de 381 licenças.

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E disseram que esperam emitir mais de 400 licenças nesta temporada. O número de operadoras de escalada de baixo custo cresceu rapidamente em Kathmandu, capital do Nepal, oferecendo grandes descontos, mas cortando custos ao dispor de menos cilindros de oxigênio para seus clientes que desejam escalar o Everest.

Outras regras propostas exigiriam que os clientes das empresas de escalada provassem ter experiência em grandes altitudes ou pagassem pelo menos US$ 35 mil pela jornada. Essa quantia garantiria, até certo ponto, que os alpinistas tivessem cilindros de oxigênio suficientes e guias. Em maio passado, Lal Bahadur Jirel, um guia de escalada nepalês, e sua equipe de 11 pessoas foram pegos no "congestionamento" no Everest. Vários alpinistas aproveitavam o bom tempo para subir ao topo do monte.

Eles se empurravam e se atropelavam para tirar selfies no cume, que é do tamanho de duas mesas de pingue-pongue e onde os níveis de oxigênio são de apenas um terço daquele ao nível do mar. Com tantos escaladores presos em uma única linha de segurança, alguns não conseguiram descer antes de ficarem sem oxigênio. E desabaram pela cordilheira. "Há muita estupidez no Everest", disse Jirel. “E, infelizmente, o governo não está fazendo nada. Eles apenas emitem licenças e cobram royalties.” / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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