Aluguel de roupas de trabalho conquista jovens executivas

Mulheres recorrem à Rent the Runway em busca de ajuda com o vestuário

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Por Sheila Marikar
Atualização:

Mulheres trabalhadoras de todas as idades conhecem uma determinada situação: diante do guarda-roupa, cenho franzido, dispensando cada peça. Um armário cheio de roupas, mas nada que sirva para vestir.

Apesar dos avanços dos movimentos que lutam pela igualdade de direitos no ambiente de trabalho, as mulheres que trabalham num escritório ainda enfrentam uma pressão que a maioria de seus colegas homens desconhece. Tem-se em relação a elas a expectativa que demonstrem elegância, profissionalismo e alguma noção de moda, o que significa geralmente um ciclo interminável de acúmulo de peças de roupa. Dá trabalho vestir-se para o trabalho, e o custo - em tempo, dinheiro e distração - é suportado de maneira desproporcional pelas mulheres.

A Rent the Runway diz que seu armazém de 23 mil metros quadrados é a maior lavanderia do mundo. Foto: George Etheredge para The New York Times

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Eis que entra em cena a Rent the Runway Unlimited: um serviço que, por uma mensalidade de US$ 159, permite que as assinantes peguem emprestado até quatro peças de roupa e acessórios de um acervo de artigos de estilistas com mais de 450 mil itens, ficando com elas pelo tempo que desejarem. As freguesas podem comprar as peças de que gostarem mais, geralmente por metade do preço do varejo. Em dois anos, o serviço somou dezenas de milhares de assinantes (a empresa não confirmou os números, mas analistas estimam que o serviço conte com 50 mil assinantes ativos).

Rapidamente, o modelo de negócios original dessa startup é substituído pelas assinaturas. A Rent the Runway foi fundada em 2009 como maneira de oferecer às pessoas a possibilidade de pegar emprestado peças de alta costura, uma por vez. Este ano, a Unlimited, que também oferece uma assinatura mais simplificada por US$ 89 mensais, vai responder pela maior parte da receita da empresa.

"Mais de 50% das nossas freguesas nos respondem com dados após o aluguel", disse Jenn Hyman, 38 anos, diretora-executiva e fundadora da Rent the Runway.

Ela estava no armazém de 23 mil metros quadrados da empresa em Secaucus, Nova Jersey - uma estrutura considerada a maior lavanderia do mundo, batizada de Dream Fulfillment Center (centro de distribuição de sonhos). Trata-se de uma infraestrutura de rastreamento de peças de roupa de imensas proporções.

Ao lado de Jenn, um funcionário cheirava o conteúdo de uma sacola com roupas, uma das centenas que as transportadoras entregam ao armazém todas as manhãs. 

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"Às vezes os fregueses nos dizem que não usaram uma determinada peça, mas nosso teste do olfato é mais importante", disse ela. "Cada peça é submetida a um processo de limpeza e higienização".

Máquinas de lavar industriais se agitavam, secadoras batiam a roupa e peças em cabides passavam por um labirinto de andaimes, encaminhadas para uma máquina que as envolvia em plástico.

Dos 1.200 funcionários da Rent the Runway, 770 ficam em Secaucus. Uma instalação parecida será aberta em Dallas no ano que vem. Outros 130 funcionários trabalham com engenharia, tecnologia da informação e análise. Eles ajustam continuamente os algoritmos responsáveis por identificar peças que possam interessar às freguesas, destacando-as na tela inicial do aplicativo, mais ou menos como as recomendações da Amazon e da Netflix.

Sushma Dwivedi, vice-presidente sênior da Edelman, usa a Rent the Runway Unlimited para se vestir para o trabalho. Foto: George Etheredge para The New York Times

"Estamos coletando centenas de milhares de pontos de dados a cada semana: estilo, caimento, ocasião de uso, outros fatores que influenciam sua vida e sua personalidade", disse Jenn. "Criamos estilos individuais para cada um de nossos usuários, o que nos ajuda a desenvolver uma página inicial particular para cada pessoa, recomendando peças que possam interessar. Parte desse trabalho envolve ir além da recomendação de peças das quais você já gosta, ajudando o usuário a descobrir outras alternativas".

Setenta e cinco por cento das roupas enviadas aos usuários da Unlimited são peças casuais para o escritório.

A hashtag #OOTD, de outfit of the day (modelito do dia), está associada a mais de 200 milhões de publicações no Instagram. 

"É grande a pressão para mostrar seu estilo por meio das fotos", disse Ariel Cohen, 29 anos, que trabalha com relações públicas. "Já ouvi amigas dizendo, 'Já usei essa peça e já publiquei uma foto usando-a, e não sinto mais vontade de voltar a vesti-la'".

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Para as mulheres que estão começando a carreira, a Unlimited tem sido muito útil. 

"Foi difícil a transição da faculdade para meu primeiro emprego de verdade", disse Elisabeth Armstrong, 24 anos, que trabalha com finanças. Ela conta também que seu salário não lhe permitia a compra de um guarda-roupa à altura. "Para as mulheres, o desafio é considerável. Os homens vestem um terno padrão. Com a ênfase na marca pessoal e na apresentação, acredito que se atribui mais peso à aparência do que antes".

O aplicativo e o site da Rent the Runway solicitam às usuárias que deixem uma opinião a respeito daquilo que usaram emprestado.

A nova-iorquina Sushma Dwivedi, 37 anos, vice-presidente sênior do conglomerado global de marketing Edelman, usou o aplicativo para relatar que o vestido alugado não era exatamente do tamanho anunciado. Apesar do inconveniente de esperar por outro vestido, ela preferia o serviço da empresa à ideia de provar peças numa loja.

"Prefiro passar sozinha pela experiência constrangedora do julgamento", disse.

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