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Apple entra na guerra dos serviços de streaming

Embora seus executivos assumam desconhecer como criar programas de televisão, a gigante do Vale do Silício está investindo pesado no setor de entretenimento

Por John Koblin
Atualização:

Conhecida por seus projetos arrojados e suas grandes campanhas de marketing, a Apple aprecia seu status como uma força dominante no mundo corporativo. Por isso, foi significativo quando um de seus executivos, Eddy Cue, adotou um tom humilde durante uma discussão no mês passado na conferência South by Southwest em Austin, no Texas.

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"Não sabemos nada sobre televisão", disse Cue, vice-presidente sênior que supervisiona a equipe responsável pela iniciativa de programação original da empresa. “Então, quais habilidades a Apple traz para isso? Segundo meu ponto de vista: pouquíssimas. Há outras coisas que trazemos. Sabemos como criar aplicativos, sabemos fazer distribuição, sabemos como comercializar. Mas nós realmente não sabemos como criar programas de TV”.

Assim como sugeriram as palavras de Cue, o novo empreendimento da Apple afastou a empresa do Vale do Silício e a colocou em território alheio: Hollywood.

Ou, para ser mais preciso: em Culver City, na Califórnia, a antiga cidade natal da Metro-Goldwyn-Mayer, onde a Apple está construindo uma nova sede de 12 mil metros quadrados para seu setor de entretenimento.

Eddy Cue, executivo da Apple, em apresentação do Apple TV, em 2017. Foto: Jim Wilson/The New York Times

Os planos da Apple para se tornar um grande participante na indústria do entretenimento estão agora em foco. Nos últimos meses, a empresa ultrapassou o Facebook e o YouTube - duas outras empresas de tecnologia que também deram passos na programação original -, bem como os tradicionais estúdios de TV. Em alguns casos, a Apple também derrotou a Netflix em guerras de licitações.

Desde outubro, a Apple fez acordos para 12 projetos, nove deles em modo “straight-to-series” - um método agressivo de criar uma nova programação que pula o estágio de episódio piloto.

Quando a Apple começou a cortejar produtores no ano passado, disse que tinha um orçamento de cerca de US$ 1 bilhão. Agora está ficando claro que a empresa vai superar esse número. Talvez mais significativo, porém, é que a forte marca da Apple e sua disposição para escrever grandes cheques rapidamente fizeram dela uma grande atração para os criadores de programas e estrelas.

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As perspectivas hollywoodianas da Apple pareciam fracas em junho passado, quando lançou sua primeira atração original, um reality show chamado “Planet of the Apps”. Embora tivesse alguns nomes famosos no elenco - incluindo Gwyneth Paltrow -, o programa foi em grande parte percebido como um fracasso.

Uma semana depois da estreia de “Planet of the Apps”, Cue melhorou muito a posição da empresa na indústria do entretenimento ao contratar os veteranos Zack Van Amburg e Jamie Erlicht, da Sony Pictures Television, estúdio responsável pelas séries “Breaking Bad” e “The Crown”.

Os dois executivos agiram rapidamente para construir a Apple Worldwide Video do zero, expandindo sua equipe para cerca de 40 pessoas e abrindo departamentos para dramas adultos, programas infantis e programação latino-americana e europeia. Ao montar sua lista de 12 projetos, Van Amburg e Erlicht fizeram acordos com grandes nomes como Reese Witherspoon, Steven Spielberg, Damien Chazelle, M. Night Shyamalan, Jennifer Aniston, Octavia Spencer e Kristen Wiig. "Estamos indo com tudo", disse Cue. "Estamos definitivamente apostando todas as fichas".

O que resta a ser visto é se os esforços da gigante de tecnologia levarão ao sucesso em uma indústria onde, como observou o roteirista William Goldman, "ninguém sabe de nada".

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