Estudo liga o aquecimento global às fortes tempestades na África

Risco de condições climáticas letais cresce à medida que aumentam as temperaturas

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Por Shola Lawal
Atualização:

A África vem sendo atingida por tempestades cada vez mais violentas e mais frequentes à medida que as temperaturas globais aumentam, afirmam pesquisadores da universidade de Tel Aviv. O continente africano já é um dos locais com maior incidência de raios no mundo, com tormentas extremamente destrutivas e às vezes mortais.

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Este mês, por exemplo, um grupo de conservação ambiental informou que quatro gorilas de uma espécie rara foram eletrocutados por raios no Parque Nacional Mgahinga, em Uganda. Em outro episódio catastrófico, um raio atingiu uma escola de ensino primário também em Uganda, matando 20 crianças e ferindo outras dez. Um número tão grande de vítimas como nesse trágico episódio é algo raro, mas os meteorologistas indagam se esses temporais hoje são mais comuns devido à mudança climática.

A resposta, de acordo com pesquisa publicada em janeiro no Journal of Climate, da Meteorological Society, é sim. Um aumento de temperatura verificado na África nas sete últimas décadas tem relação com os temporais cada vez mais fortes e frequentes, concluíram os pesquisadores.

“Os raios são o responsável número um por mortes quando falamos sobre clima nos países tropicais”, afirmou Colin Price, professor da universidade de Telavive, que liderou o estudo. Segundo uma pesquisa feita em 2018 em oito países, o número de mortes chega a 500 por ano. E globalmente as estimativas são de seis mil a 24 mil mortes por ano.

Um novo estudo conclui que a elevação das temperaturas na África vem aumentando o risco de tempestades acompanhadas de raios que podem ser mortais. Foto: Nic Bothma/EPA, via Shutterstock

Colin Price e sua colega e coautora do estudo, Maayan Harel, examinaram dados relativos a tempestades de 2013 da World Wide Lightning Location Network e determinaram que variáveis relacionadas ao clima tinham influenciado mais a ocorrência de temporais e usaram essas variáveis para criar um modelo que constrói uma história simulada de tempestades sobre a África de 1948 a 2016.

Ainda não existe um consenso formado entre os vários pesquisadores por causa da limitação dos dados e diferentes metodologias para investigar como a mudança climática afetará a ocorrência de temporais ou se mais tormentas significarão necessariamente mais ocorrências de raios.

Um estudo no Nature Climate Change em 2018 prevê uma diminuição de raios à medida que o aquecimento no mundo aumenta. Um dos autores deste estudo, Declan L. Finney, meteorologista na Universidade de Leeds, afirmou ser importante manter a mente aberta no sentido de que as previsões podem mudar à medida que os cientistas aprimoram seus métodos.

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“Há ainda muita incerteza, mas esse trabalho é útil ao contribuir para a discussão”, afirmou ele, referindo-se ao novo estudo. Os pesquisadores concordam, contudo, que medidas simples, como o desenvolvimento de sistemas para alertar a população para temporais iminentes e de aterramento em edifícios já seriam um grande passo para evitar mortes e ferimentos. O padrão dos temporais não pode ser mudado, disse Price, “mas temos de dar proteção às pessoas”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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