Artistas levam a mudança climática para a música

Cientistas e artistas esperam que o poder emocional da música ajude as pessoas a agir na crise climática

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Por Knvul Sheikh
Atualização:

O clima da Terra está mudando. Dos frequentes incêndios florestais na Califórnia ao cada vez mais violentos ciclones no Oceano Índico, a evidência do aquecimento global causado pelos humanos está se tornando clara. Mas mesmo com as pesquisas indicando uma aceitação cada vez maior da realidade do aquecimento global, muitas pessoas ainda não se sentem motivadas a agir, o assunto ainda é muito abstrato e com mais probabilidade de afetar os outros. Recentemente, com vistas a expressar a urgência da mudança climática a nível das pessoas, cientistas começaram a traduzir os áridos pontos de dados em melodias comoventes.

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“A música é realmente visceral”, disse Stephan Crawford, fundador do The ClimateMusic Projet, grupo sediado em São Francisco que cria música baseada nos dados climáticos. “Ouvir uma composição é uma experiência ativa, não passiva. Ela pode fazer com que a mudança climática seja sentida de modo mais pessoal e inspirar as pessoas a agirem”. Em 29 de outubro, uma composição do grupo, uma peça de jazz aliado à palavra falada chamada What If We...? foi apresentada pela banda COPUS para um público de 250 pessoas na sede do Banco Mundial em Washington.

Na sua obra, o compositor Wendy Loomis e Alison Marklein, pesquisador ambiental da universidade da Califórnia, em Riverside, começam a música com dados sobre a subida do nível do mar. Um algoritmo de computador depois converte cada aumento potencial de 30,5 centímetros do nível do mar em uma frequência de áudio, cada uma ligeiramente mais alta do que a última. O resultado é o equivalente auditivo a um gráfico.

Apresentação de “Climate,” pelo compositor Erik Ian Walker em colaboração com The ClimateMusic Project. Foto: The ClimateMusic Project

A composição tem início com um áudio representando o nível do mar hoje. À medida que ela avança vai introduzindo dados no futuro. A música fica cada vez mais distorcida e uma batalha dissonante ocorre entre o baixo (representando a área de terra diminuída) e a percussão (o nível do mar subindo).

A parte falada da composição envolve manchetes fictícias do futuro imaginando como o aumento do nível do mar pode afetar o globo, como: “O Oceano Ártico está sem gelo pela primeira vez”. O grupo, fundado em 2014, já apresentou composições musicais de dados climáticos em duas dezenas de concertos, especialmente na Califórnia, como também no México, França, Alemanha e Itália.

Outros cientistas também estão se voltando para a música. Em 2013, Scott St. George, professor de geografia na universidade de Minnesota, colaborou com o estudante de música Daniel Crawford para transformar 133 anos de medidas de temperatura globais em uma melodia para violoncelo. Em 2015, eles compuseram uma peça para um quarteto de cordas. “Quando dou minhas aulas e apresento os mais recentes gráficos de temperatura não tenho o mesmo tipo de reação dos meus alunos. Os gráficos não chegam com o mesmo impacto”, disse St. George.

Para motivar os ouvintes, os compositores tendem a incluir “o cenário mais favorável” nas suas obras. Em What If We...a música muda no meio, de um tom cada vez mais melancólico para um mais suave, representando o que o mundo poderá ser se as pessoas levarem a cabo as mudanças. “A mudança climática é um assunto urgente porque ainda podemos fazer alguma coisa a respeito”, disse Crawford. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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