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Artistas mergulham no mundo da realidade virtual

Daniel Birnbaum deixou um prestigioso museu para se juntar a uma startup de tecnologia

Por Josie Thaddeus-Johns
Atualização:

LONDRES - Quando Daniel Birnbaum anunciou, no ano passado, que estava deixando o cargo de diretor do famoso Moderna Museet para trabalhar em uma startup de realidade virtual, suscitou certo ceticismo no mundo das artes. Afinal, o curador sueco estava no topo da sua categoria, trabalhando com algumas das instituições mais prestigiosas do mundo das artes.

Além do Moderna Museet de Estocolmo, Birnbaum havia dirigido bienais (como a de Veneza, em 2009) e uma importante escola de arte (a Städelschule de Frankfurt). Foi jurado do Prêmio Turner na Grã-Bretanha e organizou inúmeras exposições de arte contemporânea.

Uma foto da obra de realidade virtual de Marina Abramovic “Rising” (2017), criada com a ajuda da Acute Art. Foto: Acute Art

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Por que ele deixaria tudo isso para trabalhar com a RV, uma tecnologia que ainda está engatinhando? “É algo muito desafiador porque é um campo ainda pouco explorado”, afirmou Birnbaum na sede do seu novo empregador em Londres, a Acute Art. “A decisão é fruto do meu interesse por tudo o que tem a ver com arte e tecnologia. Eu acho que as pessoas esperavam que eu fosse para algum outro museu, na Alemanha’.

Em entrevista concedida em fevereiro, poucos meses depois de assumir a direção artística da companhia, Birnbaum, 55, parecia relaxado e cheio de energia. Ele estava supervisionando a Acute Art e ao mesmo tempo planejava uma nova atividade como curador: um estande de RV intitulado “Electric” na Frieze New York, uma feira internacional de arte.

RV refere-se a experiências em alta resolução que usam um fone de ouvidos para inserir os espectadores em ambientes imersivos. Desenvolvedores de videogames acharam comercialmente viável o uso deste veículo, e também os realizadores de cinema se interessam por ele.

O Festival de Cinema de Veneza do ano passado teve uma seção de obras de RV. Lentamente, a realidade virtual abriu caminho no mundo da arte contemporânea, também, e hoje bienais e instituições de arte apresentam obras nascidas no interior daqueles enormes óculos pretos.

A Acute Art se considera algo entre uma produtora e um estúdio de artista. Dedicada unicamente à criação de obras de arte contemporânea, ela começou com uma lista de artistas famosos que experimentavam o veículo pela primeira vez: Anish Kapoor, Jeff Koons e Marin Abramovic fizeram as suas primeiras obras em RV com a companhia.

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Para a sua estande na Frieze New York, Birnbaum selecionou várias obras produzidas pela Acute Art, como “Into Yourself, Fall” de Kapoor, um mergulho de dar um nó no estômago através do próprio corpo do espectador em uma espécie de vida após a morte. Birnbaum afirmou que era importante para ele incluir artistas cuja obra não havia sido produzida pela Acute Art, como Rachel Rossin - uma espécie de figura anômala neste campo porque ela mesma faz toda a sua própria codificação.

A Acute Art reinventa o processo de produção para cada obra que produz para atender a cada artista, A peça de Marina exigiu uma espécie de mutação extremamente detalhada, tridimensional da própria artista, que o espectador pode escolher para salvar da elevação do nível do mar; Koons quis uma bailarina metalizada rodopiando por um jardim ornamental.

Soluções com uma tecnologia extremamente sofisticada não são baratas; no entanto, não há dinheiro passando de mão em mão entre a Acute Art e os seus artistas. A companhia é patrocinada por Gerard De Geer, um empresário e colecionador de arte sueco, e por seu filho Jacob.

A empresa aposta no valor artístico dos seus produtos que se traduzem em valor comercial, supostamente seguindo o modelo das galerias tradicionais que vendem um pequeno número de edições limitadas, embora os representantes da companhia se mostrem vagos quanto à sua estratégia a longo prazo.

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“Nosso objetivo é criar as obras neste estágio”, afirmou Irene Due, diretora de comunicações da Acute Art. Na Frieze, Birnbaum escolheu mostrar versões simplificadas das obras que está apresentando, deixando de lado as interações do público para que um numero maior de pessoas possa observá-las. Mas isto mostrará o melhor do que a RV pode fazer?

Esta é apenas uma das muitas perguntas sem resposta da arte da RV; Birnbaum levantou algumas outras: “Como isto poderá ser mostrado? Como será colecionado? Será vendido?” Ele não pareceu preocupado em deixá-las sem solução por enquanto, mas admitiu que o futuro é incerto. “Espero não me arrepender”, afirmou referindo-se à sua opção pela RV. “Pelo menos ainda não”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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