Aumento da violência ameaça reeleição de presidente nigeriano

Críticos lamentam que Buhari não tenha cumprido a promessa de derrotar insurgentes extremistas no país

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Por Emmanuel Akinwotu
Atualização:

GUSAU, NIGÉRIA - O médico Tijani Idris ouviu o barulho de um avião e correu para sua casa. Espiou pela janela e viu o jato sobre sua aldeia na floresta. Eram aviões da Força Aérea nigeriana, enviados para combater as gangues armadas que fizeram desta região no noroeste do país seu refúgio.

Este ano, centenas de pessoas morreram no estado de Zamfara e mais de 21 mil foram obrigadas a abandonar suas casas. No início do mês, o presidente reagiu e enviou mil soldados e jatos. "Vi os aviões e me senti encorajado", disse Idris.

O presidente Muhammadu Buhari da Nigéria, centro, tem sido criticado por não ter derrotado o Boko Haram. Foto: Agence France-Presse - Getty Images via The New York Times

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A Nigéria sofre com as ameaças à sua segurança. No nordeste, extremistas islâmicos do Boko Haram e suas facções promovem ataques. No centro do país, mais de 1.300 pessoas foram assassinadas em disputas de terra entre os pastores de gado e agricultores. Mais ao sul, os separatistas pressionam pela secessão. E em vários bolsões, sequestros tornaram-se comuns.

As ameaças constituem um problema crucial para o presidente Muhammadu Buhari, 75, que busca um segundo mandato em fevereiro. Críticos e aliados lamentam que ele não tenha cumprido a promessa de derrotar o Boko Haram. Apesar da continuidade da guerra, ele declarou vitória por diversas vezes, provocando indignação. No ano passado, a insatisfação aumentou enquanto ele recebia tratamento medico em Londres.

Há cerca de dez anos, desde o início do movimento insurgente do Boko Haram, os recursos destinados à segurança são insuficientes. No dia 12 de agosto, vários soldados pararam um aeroporto no estado de Borno, dando tiros para o alto em protesto contra suas condições de trabalho. Foi a terceira vez, a penas neste ano, que as forças de segurança protestam.

Nas últimas semanas, o partido Congresso de Todos os Progressistas sofreu uma onda de deserções, quando mais de 50 integrantes da agremiação filiaram-se ao Partido Democrático Popular. Muitos temiam que, ao se alinharem ao presidente, suas perspectivas nas eleições do próximo ano estariam comprometidas.

E eventos estranhos deixaram muitos cidadãos perplexos a respeito da situação da democracia. Nas últimas semanas, por duas vezes membros das forças de segurança do Departamento de Serviços do Estado, a principal agência de espionagem do país, apareceram mascarados na Assembleia Nacional. No dia 7 de agosto, eles impediram os parlamentares de entrar. No mesmo dia, o vice-presidente Yemi Osinbajo atirou contra o diretor da agência.

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Analistas consideram o envio dos jatos uma tardia demonstração de força do presidente Buhari. Em Zamfara, o exército combate gangues de "bandidos", como os oficiais nigerianos os chamam. Estes grupos de bandidos e milícias rivais há anos vêm saqueando e extorquindo os moradores e promovem massacres.

Segundo Anaruwa Bello, 65, que mora na aldeia de Kware, neste ano, a escala dos ataques supera tudo o que ele já viu. E disse que 26 pessoas desta área morreram recentemente.

"Se o exército tivesse vindo antes, estas mortes não seriam tão numerosas", afirmou. "A criminalidade não começou agora. Está ocorrendo há muitos anos, e ninguém nunca fez nada".

Funcionários do Estado calculam que há 2 mil bandidos armados na região - o mesmo número de policiais. Os bandidos praticamente tomaram conta de várias aldeias.

"Queremos que eles restaurem Zamfara para que volte a ser como era antes de todas estas mortes, um estado pacífico", pediu o estudante universitário Lawal Mustapha. “Isso só vai acontecer se o governo melhorar permanentemente a segurança, se não se limitar a enviar soldados que logo depois vão embora".

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