TUNIS — Quando os tunisianos se levantaram contra seu governante, sete anos atrás, uma dupla de jovens professores idealistas aderiu ao movimento, esperando que os protestos prenunciassem a entrada deste país norte-africano de 10 milhões de habitantes no rol das democracias do mundo.
Mas, hoje, Adel e Marwa Jaafri enfrentam dificuldades financeiras enquanto a economia do país parece paralisada, a moeda segue em desvalorização e o governo impõe novas medidas de austeridade.
Jaafri, 35 anos, professor de ciência da computação, aceitou recentemente um segundo emprego instalando receptores de sinal de TV via satélite, e oferece paralelamente serviços de manutenção de computadores. “Ainda não consigo pagar as contas", disse ele. “Quitamos as despesas do mês, mas tivemos que contrair muitos empréstimos. Tudo ficou mais caro: a comida, os livros da escola das crianças.”
Marwa, 34 anos, professora universitária de programação de computadores, concluiu o lamento: “Roupas, sapatos infantis. É claro que estamos preocupados. A situação está difícil".
A Tunísia corre o risco de ser paralisada por políticas econômicas de corte de custos que, de acordo com os críticos, podem acabar com o experimento democrático no país.
Uma série de críticos estão apontando as medidas financeiras promovidas por conselheiros e credores internacionais, adotadas pelos inexperientes políticos tunisianos, como responsáveis por deflagrar uma crise econômica e política.
“Quando empobrecemos a classe trabalhadora e a classe média, a democracia é enfraquecida", disse o economista Jihen Chandoul. “O que prejudica o processo democrático são as medidas de austeridade que pediram que implementássemos como condição para o acesso ao crédito. A democracia tunisiana corre perigo.”
Trata-se de um padrão já observado em todo o mundo, na América Latina, na Ásia e, mais recentemente, na Grécia, conforme o Fundo Monetário Internacional e outros credores exigem dos governos que equilibrem seus orçamentos e abram sua economia.
Na Tunísia, onde teve início a Primavera Árabe, economistas, ativistas e políticos disseram que as receitas do livre mercado enfraqueceram a fé na democracia nascente. Um teste dessa fé ocorreu no dia 6 de maio, com as primeiras eleições municipais desde os levantes populares de 2010. Logo no início, o partido Ennahda, de tendências islâmicas, afirmou ter obtido o maior número de vitórias, superando o rival secular, Nidaa Tounes, por uma margem de 5%.
O produto interno bruto da Tunísia está crescendo ao vagaroso ritmo de 2% ao ano, enquanto o desemprego está na casa dos 15,5%, chegando a cerca de 30% entre os jovens. O dinar tunisiano teve desvalorização de 40% em relação ao euro desde 2011, resultando no aumento do preço do combustível e de quase todos os bens de consumo. As agências internacionais de classificação de crédito rebaixaram a nota da Tunísia, limitando a capacidade do governo de obter empréstimos.
Os líderes políticos tunisianos dizem que não tiveram muita escolha a não ser aceitar as demandas dos credores internacionais, a quem devem US$ 31 bilhões, o equivalente a 60% do PIB.
“Não temos escolha", disse Naoufel Jammali, deputado do partido Ennahda. “Temos que reforçar nossos elos com as instituições internacionais que nos orientam a adotar essas medidas. Todos falam em um novo modelo econômico, mas ninguém sabe como criar um novo modelo.”
Os políticos atribuem parte das dificuldades aos problemas na Líbia, país vizinho, que já proporcionou empregos e remessas de dinheiro, mas agora representa uma ameaça de segurança que prejudica a indústria do turismo na Tunísia. Eles também responsabilizam as brigas internas no parlamento e as manifestações nas ruas.
Defensores dos direitos humanos se disseram alarmados com o que enxergam como um avanço do país rumo ao autoritarismo, observado na perseguição a políticos, jornalistas e ativistas que criticam a polícia e o exército.
Analistas dizem temer que o país assuma um modelo de autocracia semelhante ao que se instalou no Egito após o golpe de 2013 aplicado pelo ex-líder militar Abdel Fattah el-Sisi.
“Estamos avançando lentamente para este modelo", disse o analista e jornalista Fadil Aliriza, de Tunis. “Resta ver se teremos algum tipo de ruptura violenta.”