Autora de ‘Cinquenta Tons’ marca nova fase com romance

'The Mister' conta história de amor entre aristocrata britânico e jovem fugitiva da Albânia

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Por Alexandra Alter
Atualização:

LONDRES - E. L. James não consegue pensar em alguma coisa que ela faz por divertimento. “Preciso descobrir um hobby”, ela disse. “Escrever era o meu hobby”. Nos últimos oito anos, este hobby se transformou em uma franquia de entretenimento de um bilhão de dólares, e James, uma escritora anônima que postava fantasias lascivas online, tornou-se uma magnata da indústria erótica à frente do próprio império.

Por isso levou algum tempo para escrever uma coisa nova. Mas com The Mister, a sua primeira obra de ficção original, James, cujo nome real é Erika Mitchell, espera marcar uma nova fase em sua carreira. O seu trabalho mais recente é uma história de amor contemporânea sobre um rico aristocrata britânico que se apaixona pela faxineira, uma jovem fugitiva da Albânia.

E. L. James começou a escrever por hobby. Agora, ela supervisiona uma franquia de um bilhão de dólares. Foto: Ana Cuba para The New York Times

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Quando James lançou “Cinquenta tons de cinza” em 2011, esperava vender alguns exemplares e impedir que os imitadores roubassem o seu trabalho. Entretanto, sua trilogia erótica vendeu mais de 150 milhões de exemplares no mundo todo, e foi traduzida em cerca de 50 línguas. Adaptada para o cinema, faturou mais de US$ 1 bilhão em todo o mundo e contribuiu para popularizar o nicho dos fetiches sexuais.

Cinquenta Tons de Cinza começou como ficção explícita divulgada por fãs nas plataformas do ciberespaço, baseada na série Crepúsculo, de Stephanie Meyers. James publicou online, e por razões que até hoje acha desconcertantes, a obra viralizou. James se tornou uma escritora famosa por quebrar tabus sobre certas fantasias sexuais que as mulheres na maioria das vezes preferem esconder, até por vergonha. A série mudou a maneira com a qual os principais varejistas e companhias de entretenimento costumavam satisfazer o desejo feminino.

A supervisão de uma franquia multimídia deixava pouco tempo disponível para o seu antigo hobby. Além disso, ela, 56 anos, enfrentava expectativas impossíveis, criadas desde a sua estreia. Inevitavelmente, muitas leitoras se sentirão decepcionadas por alguma estória que não envolva a relação de dominação e submissão do bilionário Christian Grey e sua conquista, Anastasia Steele.

Para as fãs que esperam outra história quente, The Mister poderá desapontar. As cenas de sexo são explícitas, mas não chegam a ser transgressivas. James tinha objetivos narrativos além das estimulações. The Mister trata de temas pesados como a desigualdade econômica, a dramática situação dos trabalhadores ilegais, a opressão das mulheres nas sociedades conservadoras, e o fato de as instituições sociais e os governos exaltarem os ricos e explorarem os vulneráveis.

Estes temas são considerados relevantes na Grã-Bretanha, onde o Brexit mostra as feias divisões a respeito de raça, classe e de identidade britânica. James defende ardorosamente a permanência da Grã-Bretanha na União Europeia, posição que ela divulga nas redes sociais, embora tenha plena consciência de que isto poderá afastar alguns fãs.

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Não se sabe como os leitores de James reagirão a The Mister, se a devoção à autora transcenderá o seu amor por Christian Grey, e um apetite por mais livros sobre a mesma história. Ao que parece, James quase esgotou o próprio apetite por Cinquenta Tons de Cinza. Ela escreveu um romance paranormal que espera publicar, e estuda a possibilidade de dar continuação a The Mister.

“Há tantas ideias, mas todos dizem: ‘Ah, escreve mais sobre o que você fez nos últimos dez anos’”, observou. Mas as leitoras agora querem decidir a questão por conta própria, garantindo a continuação da história, com ou sem James. Escritoras amadoras escreveram e postaram dezenas de milhares de histórias baseadas em Cinquenta Tons. James diz que não leu, mas admitiu que é pertinente que as fãs assumam a iniciativa. “Parece que estes personagens agora pertencem a todo mundo. Foi uma criação das próprias fãs”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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