O pequeno videoclipe é filmado atrás do balcão de uma loja. “Se você acertar esta pergunta”, o operador de câmera, que é o balconista, diz ao cliente, “vai ter cinco segundos para pegar o que quiser”.
“Beleza”, diz o cliente, um homem de barba. “Dez vezes dez, menos cinquenta”, diz o balconista.
“Cinquenta!”, o barbudo responde de imediato. “Cinco! Quatro!”, começa a gritar o balconista, em contagem regressiva.
O homem sai correndo em direção às prateleiras da lojinha e se abaixa para alcançar seu prêmio.
“Meu gato não!”, berra o balconista. O vídeo foi visto mais de 18 milhões de vezes na plataforma de compartilhamento de vídeos TikTok, bombando o perfil do balconista, Ahmed Alwan, e a própria cultura de bodega.
Em parte lojinhas, em parte centros comunitários, as bodegas geralmente ficam nos bairros da classe trabalhadora de Nova York. São, por natureza, hiperlocais.
“Estamos pegando Nova York e botando na palma da mão das pessoas”, disse John Calzado, 27 anos.
Calzado, nascido e criado na região do Queens, acumulou mais de 500 mil seguidores no TikTok com vídeos que celebram e zombam da cultura dominicana de Nova York.
“Essa cultura não existe sem a bodega”, disse ele. Recheadas de produtos em embalagens coloridas e lar de personagens ainda mais coloridos, as bodegas são cenários de forte apelo visual. O que faz delas uma ótima combinação para o TikTok.
Para os adolescentes e os jovens adultos de vinte e poucos anos, o TikTok e outras plataformas de compartilhamento de vídeo são as principais ferramentas para explorar culturas desconhecidas. Isso inclui as peculiares lojinhas de Nova York.
“Às vezes esqueço que existem pessoas que não sabem o que é uma bodega”, disse Ezzaddin Alsaedi, 20 anos, que emigrou do Iêmen quando criança e cresceu no Bronx. Ele trabalha na bodega da família no Bronx desde os 15 anos.
“O cotidiano da bodega é uma comédia”, disse ele. “Acho que pessoas gostam dos meus vídeos porque eles trazem um pouco de comédia para o dia delas”.
Os vídeos que Calzado, Alsaedi e Alwan compartilham são engraçados. Mas o jogo de matemática de Alwan, no qual ele distribui lanches como prêmios, não serve apenas para arrancar risadas da audiência.
Os vídeos, disse ele, iluminavam o generoso espírito de família que os trabalhadores da bodega compartilham com as pessoas a quem servem. Os fregueses mais fiéis podem pegar alguns produtos a crédito, sob o acordo de que vão acertar a conta depois.
“A ideia é ajudar meus clientes”, disse ele.
Todos os funcionários de bodega que fazem vídeos do TikTok parecem sentir que o relacionamento entre eles e os fregueses é único.
Calzado disse: “Você conhece o cara atrás do balcão, conhece os caras que frequentam a bodega. Aí você fica à vontade. Dá uma sensação de família. Acho que as pessoas sentem isso. Ou querem sentir”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU