A Broadway pode estar fechada, mas seus edifícios continuam brilhando

Os edifícios falam - e falam historicamente, pessoalmente, profundamente, cada um à sua maneira

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Por Michael Kimmelman
Atualização:

Semanas atrás, quando os nova-iorquinos estavam começando a se fechar em casa, convidei algumas pessoas para passear por lugares significativos para elas.

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O objetivo? Uma chance de descrever como os edifícios falam - e falam historicamente, pessoalmente, profundamente, cada um à sua maneira.

O arquiteto David Rockwell quis ver aos teatros da Broadway hibernando. Vencedor de um Tony, um Emmy e um James Beard Award, ele fundou o Rockwell Group, com sede em Nova York, que projetou mais de 70 produções dentro e fora da Broadway, além de dezenas de hotéis, restaurantes e outras instituições em todo o mundo. Nossa conversa foi editada e simplificada.

O teatro New Amsterdam, construído em 1903, tem um estilo Art Nouveau. Seu design põe o foco nos artistas. Foto: George Etheredge / The New York Times

Michael Kimmelman: Os teatros estão fechados. O que você tem em mente?

David Rockwell: Fiquei pensando no fato de a gente não poder entrar. Pelo lado de fora, uma das coisas que mais diferencia um teatro da Broadway de qualquer outro é a entrada. As entradas são importantes em toda a arquitetura, claro, mas na Broadway muitas coisas se põem em movimento, com muito drama.

Um bom exemplo é o New Amsterdam, construído em 1903. Foi projetado por Herts & Tallant, seu primeiro grande sucesso.

É uma versão extraordinariamente barroca do Art Nouveau, com toda essa linda terracota envidraçada e três galerias que fundem as paredes com o teto e o palco, feito uma pele esticada, para que tudo canalize a atenção da plateia para os artistas.

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Você tem que imaginar a cena inteira. Aqui fora, o teatro está escondido atrás do que parece ser um edifício de escritórios da virada do século, elegante e todo decorado. Lá dentro, os camarotes ornamentados se expandem e envolvem as paredes que sustentam a cúpula, ligando tudo ao proscênio, com os detalhes mais frenéticos ao redor dos camarotes e mais simples ao redor do proscênio.

Então, a arquitetura convida as pessoas a visitar o prédio e concentra a atenção de todos no palco. Ela encerra um drama particular, que começa na rua.

Aqui temos um ótimo exemplo disso.

* Agora, fomos até a 44th Street e seguimos rumo leste, em direção a Belasco, passando pelo Hudson Theatre.

O Hudson é de 1903. Quando foi inaugurado, todos diziam que tinha um saguão imenso. Este era o seu cartão de visita. O Belasco, mais adiante no mesmo quarteirão, parece uma versão cartunesca do estilo arquitetônico Colonial Revival.

The Belasco Theatre foi inaugurado em 1907. Foto: George Etheredge/The New York Times

* OK, agora voltamos para o oeste, no coração da Broadway, na Shubert Alley, que destaca os teatros Shubert e Booth.

Os dois teatros foram concebidos juntos. Usam um maravilhoso tipo de rústico veneziano emoldurando detalhes profundamente esculpidos, feitos com camadas de cimento colorido chamadas sgraffito. Fantástico.

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Nesse mesmo quarteirão, gostaria de destacar o Majestic e o St. James, duas das maiores e mais lendárias casas musicais da Broadway, porque adoro a decoração de ferro fundido nas fachadas. Um teatro é uma superfície retesada que contém uma caixa fechada. Então nem sempre tem coisas para decorar no exterior. Nesses casos, os compartimentos para manutenção e saídas de incêndio se tornaram oportunidades para esses incríveis floreios.

O Shubert Theatre compartilha a fachada com o Booth, ao norte, e tem um estilo veneziano. Foto: George Etheredge / The New York Times

- Uma última parada?

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Gostaria de terminar o tour no Studio 54. Ele diz muito sobre a Broadway, a arquitetura e a cidade. O edifício foi projetado em 1927 por Eugene De Rosa. Fez parte de uma onda de teatros construídos na Broadway, veja só, durante a década que se seguiu à epidemia da gripe de 1918. Abriu como uma casa de ópera. Os teatros são muito resilientes. Podem ter muitas vidas. Quando o Studio 54 era uma casa noturna, nos anos 80, projetei um sushi bar na galeria. Depois virou sede da companhia Roundabout Theatre e com eles eu pude fazer o espetáculo She Loves Me.

A cenografia ensina aos arquitetos que nada é permanente. A permanência às vezes pode ser um pouco restritiva. O teatro não é permanente. Existe enquanto existe uma plateia. 

- É como a cidade

É aí que ganha vida. Assim como a cidade. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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