Cientistas criam estratégia para enxergar um buraco de minhoca

Gravidade pode nos levar a uma estação de metrô cósmica

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Por Dennis Overbye
Atualização:

Na ficção científica, os buracos de minhoca - túneis pelo espaço-tempo - são a maneira preferida de viajar pelo universo. Na vida real, uma dupla de físicos indicou recentemente que talvez seja possível determinar se há de fato uma estação de metrô cósmica no centro da nossa própria galáxia. É onde fica um buraco negro super maciço - um cemitério cósmico invisível com massa quatro milhões de vezes maior que a do Sol -, envolto em mistério atrás das nuvens de poeira de Sagitário.

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Os buracos de minhoca são outra previsão da teoria geral da relatividade de Einstein, que já nos ensinou a respeito do universo em expansão e dos buracos negros, objetos tão densos que engolem a luz. Uma versão simples de um buraco da minhoca, chamada de ponte Einstein-Rosen, seria formada por um par de buracos negros interligados entre si, cada qual voltado para sua própria região do universo (ou universos) e conectado ao outro por um "túnel"- o buraco da minhoca.

Se existissem, os buracos de minhoca não permitiriam nossa passagem ou mesmo o envio de mensagens. Assim que tentássemos algo do tipo, seríamos esmagados. Para impedir a implosão de um buraco da minhoca, o espaço teria que ser preenchido com uma substância exótica, às vezes chamada de energia fantasma, que emitiria energia gravitacional negativa. Mas a maioria dos cientistas acredita que as leis da física proíbem a existência dessa substância.

Região em torno do buraco negro da Via Láctea. Foto: NASA/CXC/Univ. of Wisconsin/Y.Bai, et al.

No seu estudo, publicado no dia 10 de outubro na revista Physical Review D, o físico Dejan Stojkovic, da Universidade de Buffalo, e De-Chang Dai, da Universidade Yangzhou, na China, imaginaram uma camada dessa exótica energia fantasma reunida perto da entrada do buraco negro de Sagitário, mantendo aberto um buraco da minhoca pelo qual poderíamos passar com segurança.

Quando um objeto suficientemente pequeno se aproximasse do buraco, e antes de chegar ao horizonte de eventos, ponto a partir do qual se torna impossível escapar de sua gravidade, ele se veria em outros lugar e época, possivelmente em outro universo. Os autores alegaram que seu experimento de imaginação pode ser usado como maneira de testar se os buracos de minhoca de fato existem: a gravidade poderia atravessá-los, disseram eles.

“A gravidade nada mais é do que uma propriedade do próprio espaço-tempo. Assim sendo, se agitamos uma de suas extremidades, a outra deveria se movimentar de acordo", explicou Stojkovic. Uma estrela em um dos lados de um buraco de minhoca poderia sentir a atração da gravidade de uma estrela do outro lado do túnel. Para os astrônomos, estranhos desvios na trajetória de uma estrela poderiam indicar a influência de uma “estrela fantasma” sentida através do buraco de minhoca, vinda do outro extremo.

Dai e seu colega têm em mente uma estrela específica para testar a ideia: uma estrela azul conhecida como S2 que orbita de perto o buraco negro de Sagitário, chegando a uma distância de 17,7 bilhões de quilômetros a cada 16 anos, provavelmente. Os astrônomos acompanham a estrela há anos em busca de indícios do funcionamento da teoria da gravidade de Einstein e do funcionamento interno do buraco negro. Mas talvez eles consigam enxergar mais fundo.

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Imaginemos que o buraco negro da Via Láctea, conhecido como Sagitário A*, tivesse um buraco da minhoca desse tipo, escreveram Dai e Stojkovic. E a gravidade de estrelas e outros objetos no extremo distante poderia atravessar o buraco da minhoca, desviando levemente a órbita da S2. Eles destacaram que, com mais alguns anos de estudos, os astrônomos devem conhecer a órbita da S2 com precisão suficiente a ponto de detectarem um desvio desse tipo.

Ainda assim, mesmo se o buraco da minhoca existir, os cientistas dizem que não teremos como saber: há muitos objetos do nosso lado do buraco contribuindo para os desvios da S2 - estrelas apagadas, buracos negros estelares - a ponto de sua turbulência bloquear nossa visão das maravilhas que se encontram do outro lado. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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