Como uma turma da 2ª série dos EUA enviou um experimento científico ao espaço

Empresa de foguetes fundada por Jeff Bezos permite que escolas desenvolvam pequenos experimentos e os lancem em uma de suas naves suborbital

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Por Kenneth Chang
Atualização:

Em 2015, os alunos da turma de segunda série de Maggie Samudio na Cumberland Elementary School em West Lafayette, Indiana, estavam refletindo sobre uma questão científica um tanto incomum: se um vagalume fosse para o espaço, será que ele ainda conseguiria acender sua luz, flutuando em gravidade zero?

Samudio disse que pediria a resposta a um amigo dela, Steven Collicott, professor aeroespacial na Universidade Purdue, ali perto. “Ele dá aula sobre gravidade zero e seria a pessoa perfeita para responder à pergunta”, lembrou Samudio, por e-mail. Um dia depois, Collicott respondeu, e Samudio se surpreendeu com sua resposta: em vez de ficar refletindo, por que não construir o experimento e enviá-lo para o espaço?

Em 2017, a estudante Hannah Hodgson e seus colegas de classe desenvolveram um experimento para descobrir se os vagalumes brilham na gravidade zero. Foto: Steven Collicott/The New York Times

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Blue Origin, a empresa de foguetes fundada por Jeff Bezos, executivo-chefe da Amazon, estava planejando oferecer a possibilidade de escolas fazerem pequenos experimentos em sua nave suborbital, a New Shepard, por apenas US $ 8 mil. “Isso mudou tudo”, disse Erika Wagner, diretora de vendas da Blue Origin. “Até crianças de escolas estão mandando coisas para o espaço”.

Collicott, que mandou vários experimentos de fluxo de fluido em lançamentos da New Shepard, indicou Samudio e seus alunos para a Blue Origin. “Podemos levar uma pequena carga de 25 centímetros quadrados por 20 centímetros de altura pela metade do custo dos uniformes da equipe de futebol americano da escola”, disse Collicott.

“Então, qualquer escola de bairro que consiga bancar um time de futebol americano agora também consegue bancar voos espaciais”. A escola Cumberland não foi a única a ver o valor de pagar por um experimento a bordo do foguete New Shepard. Uma escola do Colorado enviou um pacote de sensores projetado e programado pelos alunos.

A Blue Origin, empresa de Jeff Bezos, trabalha com escolas para permitir o envio de experimentos para o espaço. Foto: Blue Origin via The New York Times

Uma escola de ensino médio do Alabama lançou um experimento para testar as flutuações de temperatura na microgravidade. E, em dezembro do ano passado, uma escola primária de Ohio enviou filhotes de água-viva. A bordo do mais recente voo, estavam 1,2 milhão de sementes de tomate, que serão distribuídas a alunos de 15 mil turmas, do jardim da infância ao ensino médio, nos Estados Unidos e no Canadá.

Seguindo a sugestão de Collicott, as crianças de Samudio na escola Cumberland começaram a trabalhar em colaboração com os alunos da Universidade Purdue. “Pelos dois anos seguintes, tive engenheiros aeronáuticos na minha sala de segundo ano, dando miniaulas sobre princípios básicos de voo e propulsão, além dos princípios básicos da química do ‘vagalume’”, disse Samudio. Em 12 de dezembro de 2017, o experimento do vagalume estava a bordo da New Shepard. Não continha nenhum vagalume de verdade. “Parece que, quando assustados, os vagalumes não acendem”, disse Collicott.

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“E estávamos preocupados, achando que a propulsão poderia assustá-los. Além disso, tinha a questão de manter os vagalumes vivos e também felizes”. Então o experimento só reproduziu a química de como os vagalumes geram luz, com seringas misturando as substâncias enquanto a cápsula alcançava o topo da trajetória, quase 100 quilômetros acima do oeste do Texas.

Uma pequena câmera de vídeo registrou o que aconteceu dentro da caixa. Collicott compareceu ao lançamento e, dois dias depois, estava de volta à sala de aula de Samudio apresentando os resultados. Os vagalumes, de fato, podem brilhar no espaço. “Esse tipo de reviravolta é simplesmente incrível, o voo espacial está bem perto desses alunos”, disse Collicott.

“Tudo foi muito rápido. E bem bacana”. O experimento espacial fez parte de um projeto maior realizado pelas turmas de Samudio. Uma de suas alunas, Kayla Xu, notou com tristeza que a maioria dos estados tinha um inseto oficial, mas Indiana, não. E ela queria consertar isso. Essa iniciativa também deu certo.

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Em 23 de março de 2018, o governador Eric Holcomb foi até a escola Cumberland para assinar um projeto de lei que declarava que o vagalume Say, uma espécie nativa da região, seria o inseto oficial do estado de Indiana. “Vários pais me disseram que a simples questão de perguntar aos filhos o que eles tinham feito na escola naquele dia deu origem a incríveis conversas familiares, leituras e pesquisas extras, além da contemplação de futuras buscas e objetivos pessoais”, disse Samudio. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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