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Estudo paleontológico analisa evolução dos crocodilos

Eles mudaram ao longo de milhões de anos e, até certo ponto, podem até ter sido de sangue quente

Por Asher Elbein
Atualização:

Nas manhãs gloriosas dos trópicos, os crocodilos se arrastam fora da água para se aquecer no sol. Como outros répteis, eles precisam do seu calor para alimentar o metabolismo. Parece a visão de um mundo pré-histórico, no entanto, são cada vez mais há numerosas evidências de que os modernos crocodilos diferem substancialmente dos seus primitivos ancestrais.

Em um recente estudo publicado pela revista Paleobiology, dois paleontólogos da Sorbonne, em Paris, examinaram alguns ossos de um réptil de 237 milhões de anos e descobriram sinais de que os ancestrais do crocodilo tinham um metabolismo consideravelmente ativo, e que estas criaturas evoluíram muito antes do que se imaginava.

Crocodiliformes como o Sarcosuchus imperator são antigos parentes do moderno crocodilo, que segundo alguns cientistas, outrora pode ter sido de sangue quente. Foto: Patrick Kovarick/Agence France-Presse - Getty Images

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“A questão fundamental era saber se estes organismos eram de sangue frio ou quente”, disse Jorge Cubo, o autor principal do estudo. No passado, os pesquisadores dividiam claramente os animais de acordo com o seu metabolismo: de um lado, os endotérmicos (mamíferos e aves), que produzem calor por processos internos, e os ectodérmicos (répteis e anfíbios), que o buscam no meio ambiente.

Os crocodilos modernos são os últimos sobreviventes da família dos crocodiliformes, encontrada em todos os continentes da era mesozóica, que são também membros da linhagem mais ampla dos arcossauros, grupo no qual estão incluídos os pterossauros endotérmicos, dinossauros e aves. Muitos pesquisadores consideravam os modernos crocodilos uma relíquia da transição dos mais antigos répteis de sangue frio para os endotérmicos, como os dinossauros e as aves.

No entanto, outros afirmavam que os crocodilos podem ter sido mais próximos dos endotérmicos do que se suspeitava. Alguns pesquisadores descreveram um processo pelo qual os embriões dos alligators (jacarés) desenvolvem uma abertura peculiar pouco antes da incubação, que permite que o sangue contorne o pulmão.

O processo transforma “um coração endotérmico em ectotérmico”, afirmou Roger Seymour, biólogo da evolução da Universidade de Adelaide, na Austrália. Esta e outras linhas de evidências levaram Seymour a preparar um estudo, em 2004, em que afirma que os crocodiliformes ancestrais eram animais de sangue quente.

Surgiu então a questão da origem distante da endotermia da família dos arcossauros. Em 2016, Cubo pesquisou as coleções do Museu de História Natural da França em busca do parente mais antigo dos arcossauros. E determinou que se tratava do Azendohssauro, um herbívoro do triássico de estatura relativamente baixa.

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Para ter uma noção do metabolismo do Azendohssauro, Cubo cortou fatias do osso e examinou sua estrutura microscópica. Descobriu que o Azendohssauro provavelmente tinha um metabolismo em repouso significativamente mais elevado do que a maioria dos ectotérmicos vivos. O que sugeria que os parentes do arcossauro do período triássico tardio já eram de sangue quente, e que as origens da família devem ser potencialmente buscadas há mais de 260 milhões de anos.

“Os primeiros crocodiliformes eram provavelmente terrestres e de sangue quente”, afirmou Cubo. Christopher Brochu, um paleontólogo da Universidade de Iowa, é mais cauteloso. O clima mais quente da época, afirmou, pode ter ajudado a estimular o metabolismo dos primeiros parentes dos crocodilos sem exigir um metabolismo totalmente endotérmico.

“O sangue frio e o sangue quente não são categorias fixas - elas são os membros finais de um espectro”, segundo Brochu. A transição de animais terrestres ativos para animais semiaquáticos provavelmente explica o motivo pelo qual os modernos crocodilos evoluíram para um estilo de vida mais de sangue frio, segundo Seymour.

“As vantagens são enormes”, afirmou. Com um metabolismo lento, os crocodilos podem jejuar durante meses, podem segurar a respiração por um período dez vezes maior, e não precisam despender energia para permanecerem quentes contra o poder de esfriamento da água. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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