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Colisão de asteroide já enviou a Terra para uma era glacial, diz estudo

Pesquisa oferece novas perspectivas aos esforços atuais para lidar com a mudança climática

Por Emma Goldberg
Atualização:

Eventos interestelares - a colisão de longínquos buracos negros, um cometa se chocando contra Júpiter - invocam fascínio na Terra, mas raramente um senso de urgência. O que ocorre no espaço sideral fica no espaço sideral. Um estudo recente traz uma exceção a essa regra.

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Uma equipe de pesquisadores liderada por Birger Schmitz, um físico nuclear da Universidade de Lund, na Suécia, descobriu que, há muito tempo, uma distante - e ancestral - colisão de asteroides gerou poeira suficiente para causar uma era glacial na Terra. O estudo oferece novas perspectivas aos esforços atuais para lidar com a mudança climática.

“Demonstramos que aquilo que acontece no sistema solar pode ter grande influência na Terra”, afirmou Philipp Heck, um dos autores do estudo. “Eventos interestelares não são sempre destrutivos. Muitas pessoas pensam nos meteoritos somente como os assassinos dos dinossauros, mas descobrimos o contrário. Uma grande colisão no cinturão de asteroides teve consequências construtivas, que levaram ao resfriamento da Terra e à diversificação da vida.”

A Terra é exposta com frequência a matéria interestelar; 36 mil toneladas desse material caem sobre o planeta todos os anos. Mas, 466 milhões de anos atrás, um asteroide com 150 quilômetros de diâmetro colidiu contra um objeto desconhecido, que viajava em alta velocidade entre Marte e Júpiter. O impacto elevou em 10 mil vezes a quantidade de poeira que chegava à Terra durante os dois milhões de anos que se seguiram. 

O asteroide 6478 Gault perde matéria lentamente. A poeira vinda de corpos celestes desse tipo pode ter sido determinante no resfriamento da Terra, no passado. Foto: NASA, via Associated Press

Em quantidades suficientes, a poeira estelar pode resfriar a Terra, ao bloquear a quantidade de radiação solar que atinge a superfície. Já que a poeira da colisão do asteroide se acumulou gradualmente, o planeta se resfriou gradualmente, permitindo que as espécies de plantas e animais se adaptassem, enquanto o nível do mar baixava e as temperaturas diminuíam em até 10 graus Celsius.

A prova obtida pela equipe veio de um estudo de meteoritos fossilizados, materiais estelares que há muito tempo foram incorporados às rochas terrestres. Ao rastrear o aumento de certos tipos de isótopos nos meteoritos, os pesquisadores conseguiram determinar que a poeira estelar começou a atingir a Terra cerca de 50 mil anos após a colisão. Uma era glacial global se iniciou cerca de 10 mil anos depois.

As descobertas da pesquisa revelaram um mecanismo que poderia um dia ser usado para combater o aquecimento global. Pesquisadores propõem que um asteroide fosse capturado e levado para um dos pontos de Lagrange entre o sol e a Terra - uma zona instável, na qual a força gravitacional dos dois corpos celestes se equivale -, permitindo que ele produzisse a poeira que bloquearia a luz solar. Eles não são os primeiros cientistas a sugerir o uso de poeira estelar para resfriar a Terra.

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Contudo, Heck enfatizou que suas descobertas são somente uma base para investigação. “Colocar uma rocha em um ponto instável que poderia fazê-la cair sobre a Terra me desperta preocupação”, disse ele. “Um pequeno asteroide não ocasionaria a extinção global, mas poderia causar uma catástrofe local ou destruir uma cidade, na pior das hipóteses.”

No mínimo, afirmou Schmitz, o estudo vai ajudar as pessoas a reconhecer a conexão da Terra com o restante do sistema solar. “Os geólogos nunca pensam em nada de fora da Terra. As pessoas têm de entender o que acontece no espaço para entender completamente o que aconteceu na Terra.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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