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Conheça o cientista considerado o 'guia espiritual' dos algoritmos

A obra-prima de Donald Knuth está na lista de livros que moldaram a ciência

Por Siobhan Roberts
Atualização:

Donald Knuth, cientista da computação da Universidade de Stanford, na Califórnia, é o maior guia espiritual dos algoritmos há meio século. Ele é o autor de The Art of Computer Programming (A arte da programação de computadores), obra de quatro volumes, ainda em andamento, que é o grande trabalho de sua vida. O primeiro volume foi publicado em 1968, e a obra completa (vendida em um box por cerca de US$ 250) entrou na lista de livros que moldaram o último século da ciência, feita pela American Scientist em 2013.

Com mais de um milhão de cópias impressas, The Art of Computer Programming é a bíblia de seu campo de estudos. Fala sobre algoritmos, as fórmulas que alimentam a era digital. Knuth, 80 anos, é um especialista muito admirado. Seu nome está por trás de algumas das ideias mais importantes da área, como o algoritmo de busca Knuth-Morris-Pratt. Criado em 1970, esse algoritmo encontra todas as ocorrências de determinada palavra ou padrão de letras dentro de um texto - é utilizado, por exemplo, quando você pressiona Ctrl + L (ou Ctrl + F) para procurar uma palavra-chave em um documento.

Donald Knuth ajudou a criar o código para pesquisar palavras em determinado documento, usando o Ctrl + F. Foto: Brian Flaherty para The New York Times

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Hoje em dia, com os algoritmos planejando (e comprometendo) nossa existência, o programador médio não tem mais tempo para chafurdar no lodo binário e prefere trabalhar com camadas de código - e, frequentemente, com cadeias inteiras emprestadas de bibliotecas de código. Mas, às vezes, uma elite de engenheiros ainda se arrisca em mergulhos mais profundos.

Knuth é conhecido por introduzir a noção de "programação literária", que ressalta a importância de se escrever um código que seja legível tanto para computadores quanto para humanos. Ele chegou a dizer que alguns programas de computador são obras literárias dignas de Prêmio Pulitzer. Ele também é um notório perfeccionista e oferece recompensas em dinheiro para qualquer um que encontre um erro em seus livros. 

Seu padrão de exigência pode explicar por que o trabalho de sua vida está longe de ser concluído. Quando começou, pretendia escrever um único livro. Logo depois, a ciência da computação passou por um Big Bang, então ele reelaborou o projeto, imaginando-o em sete volumes. Agora, produz também subvolumes, chamados fascículos. O próximo deveria ser publicado antes do Natal, mas vai atrasar até abril, porque Knuth fica encontrando problemas cada vez mais irresistíveis para apresentar a seus leitores.

Horrorizado com a aparência de seu livro com o advento da publicação digital, Knuth resolveu criar o sistema de composição TeX, que continua sendo o padrão-ouro para publicações e comunicações científicas. Alguns consideram que esta foi sua maior contribuição - e a maior contribuição à tipografia desde Gutenberg.

Embora ele tenha dito que "o prazer talvez tenha sido o principal objetivo desde sempre", cientistas da computação estão tentando resolver problemas do mundo real. E, é claro, também estão causando problemas no mundo real. Algoritmos escritos por humanos são bem preocupantes. Mais preocupantes ainda talvez sejam os algoritmos escritos pela máquina, conforme ela vai aprendendo.

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Os quatro volumes de 'The Art of Computer Programming entraram na lista da American Scientist' sobre os livros que moldaram o último século da ciência. Foto: Brian Flaherty para The New York Times

"Agora estamos escrevendo algoritmos que não conseguimos ler", disse Kevin Slavin, do Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts. "Estamos sujeitos a ideias, ações e esforços de um conjunto de princípios que têm origens humanas mas não têm compreensão humana". Como ele sempre observou, "será um futuro brilhante, para quem for um algoritmo".

Ainda mais se você for um algoritmo fluente em Knuth. 

"Hoje, os programadores usam coisas que Knuth e outros fizeram como componentes de seus algoritmos, e combinam isso com todas as outras coisas de que precisam”, disse Peter Norvig, diretor de pesquisa do Google. “Acontece a mesma coisa com a inteligência artificial. Só que essa combinação será feita de maneira automática, com base nos dados, e não no trabalho do programador. Pode ser que cada componente seja uma página ou um capítulo tirado de Knuth, porque esta é a melhor maneira de realizar qualquer tarefa".

Por sorte, Knuth continua na ativa. Ele calcula que levará outros 25 anos para concluir The Art of Computer Programming. Será que os algoritmos de escrita de algoritmos terão seu próprio capítulo ou pelo menos uma página no epílogo? "Não, definitivamente, não", disse Donald Knuth.

"Estou preocupado porque os algoritmos estão ganhando muita proeminência no mundo", explicou. "No começo, os cientistas da computação se queixavam porque ninguém nos ouvia. O problema, agora, é que tem gente demais nos ouvindo".

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