
07 de junho de 2019 | 06h00
“Eu nunca tive de ir a um tribunal por conta dessas coisas", disse Eric Doeringer recentemente, em frente a uma parede com suas últimas obras de arte. "Geralmente, quando eles me pedem para parar e desistir, eu faço isso". Doeringer, conhecido por suas apropriações de obras de artistas contemporâneos famosos, estava escondido em seu estúdio em Nova Iorque, trabalhando em seu novo projeto. No início de maio, sua exposição Christy's estreou no espaço da galeria High Line Nine, com curadoria de A Hug From the Art World. Doeringer exibiu e vendeu versões piratas de obras de arte, no mês passado, durante a noite dedicada ao pós-guerra e à arte contemporânea na casa leiloeira Christie's, em Nova Iorque.
As versões autênticas das obras, que estavam em exibição na Christie's New York antes do leilão, incluíam peças de Andy Warhol e Robert Rauschenberg. Seus preços de venda chegaram a milhões. O preço pedido pelas cópias de Doeringer? Simplórios US$ 1 mil por cada obra. "No mundo da arte, os preços de leilão são praticamente o único registro público do valor de um trabalho, então eles definem o valor do trabalho dos artistas", disse. “A ideia era aproveitar este evento e acabar com isso, além de disponibilizar essas obras multimilionárias por muito menos”.
Em seu estúdio estão as versões de obras de Frank Stella, Wayne Thiebaud, KAWS, Giorgio Morandi, Rauschenberg e Warhol. As imitações são menores do que as peças nas quais são baseadas e com claras imperfeições - uma linha torta aqui, uma parte visivelmente colada ali -, mas instantaneamente reconhecíveis.
"Elas (obras) vão te enganar à distância", afirmou Doeringer. "Mas não vão te enganar quando você olhar de perto". O artista, de 44 anos, é mestre em Belas Artes pela Universidade Tufts, em Massachusetts, e produz as “versões piratas” desde 2001, quando começou a vender cópias caseiras de obras de artistas como Elizabeth Peyton, John Currin e Damien Hirst em uma rua de Manhattan.
Desde então, ele expôs em galerias de verdade. "Aqueles em busca de cópias idênticas, cuidado", escreveu Roberta Smith no The New York Times em 2014. "Essas obras não são cópias, mas sim atualizações baseadas nos designs atuais da sociedade".
O que a Christie’s acha de suas últimas imitações? "Estamos lisonjeados", respondeu Alex Rotter, funcionário da galeria. “Seja arte ou música, uma boa versão pirata lembra uma experiência que você gostou e quer manter”.
Fazer as cópias envolve o trabalho de trás para frente. Para uma cópia de Double Elvis, de Warhol, um retrato em silk screen de duas imagens idênticas sobrepostas de Elvis Presley em trajes de cowboy, Doeringer encontrou uma versão digital da foto que Warhol usou e criou um estêncil dela. Seu “Andy Warhol (Double Elvis)” foi essencialmente feito usando uma aproximação digital do método de Warhol.
Para uma versão de Rabbit, de Jeff Koons, uma escultura de aço inoxidável que foi vendida pelo valor recorde de US$ 91,1 milhões, Doeringer inflou um dos vários coelhos de plástico que comprou online. Sua forma era notavelmente semelhante à escultura de Koons, embora também fosse amarela translúcida e tivesse um rosto de desenho animado. Mas Doeringer o pintou de prata. "Não é exatamente o mesmo", comparou. "Mas é bem próximo". / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA
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