Coreia do Sul quer limitar exposição de astros 'muito parecidos'

A estética de estrelas do pop sul-coreano casou polêmica entre autoridades e fãs

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Por Tiffany May
Atualização:

HONG KONG - Olhos de gazela e feições delicadas. Maxilar forte e figura esbelta. Pele branca muito clara, quase luminosa. O grande número de ídolos do pop sul-coreano (conhecido como K-pop) que se enquadram nesta descrição aumenta o apelo sobre as massas e leva muitos jovens a querer igualar-se a eles.

Em um país obcecado pela beleza, onde a cirurgia plástica está se difundindo cada vez mais, o governo da Coreia do Sul se esforça para tentar limitar a exposição desses astros na televisão, afirmando que eles se parecem de maneira excessiva.

O governo da Coreia do Sul criticou os astros do K-pop, como as meninas do SixBomb, por se parecerem demais. Foto: Yelim Lee/Agence France-Presse

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"Será que todos os cantores dos programas de televisão são gêmeos?", indagou o Ministério da Igualdade de Gênero e da Família a respeito das estrelas do K-pop, como suas músicas são conhecidas, nas diretrizes divulgadas em fevereiro destinadas às emissoras, segundo o Korea Times.

"Eles parecem rigorosamente idênticos", afirmou, acrescentando que muitos estilos musicais dos grupos desses ídolos são "tão limitados quanto a sua aparência".

As diretrizes provocaram tantas críticas de fãs, que no dia 19 de fevereiro, segundo a agência France-Presse, o ministério pediu desculpas por "causar uma confusão desnecessária", e afirmou que algumas das recomendações seriam retiradas ou revistas. Alguns compararam as diretrizes à censura imposta durante a ditadura militar, na segunda metade do século 20.

Uma petição divulgada online pedia a dissolução do ministério. "O ministério ousou criticar as estrelas femininas por serem demasiado bonitas, por usarem a mesma roupa e por serem magras", informou o jornal Korea Joongang Daily.

O político opositor Ha Tae-kyung comparou as diretrizes - que, segundo o Ministério do Gênero, aplicavam-se tanto a artistas do sexo feminino quanto do masculino - às restrições a respeito do cabelo e do comprimento das saias em vigor na época da ditadura.

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"Não existem padrões objetivos para o aspecto físico das pessoas", escreveu em um post no Facebook, no dia 16 de fevereiro.

Não era a primeira vez que Ha defendia integrantes de bandas K-pop, personalidades influentes junto ao público. No ano passado, pediu que eles fossem isentos do serviço militar do país porque os músicos clássicos gozam de isenção.

As diretrizes visam tornar a televisão uma experiência mais benevolente. No dia 18 de fevereiro, representantes do ministério afirmaram que os espectadores temiam que os programas de TV "exacerbassem as desigualdades e os estereótipos de gênero, em lugar de corrigi-los", noticiou o Korea Joongang Daily.

Nas diretrizes, as autoridades sugeriram que as emissoras evitem apresentar no mesmo programa artistas "cuja aparência seja excessivamente semelhante".

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Uma pesquisa da Gallup Koreal mostrou que uma em cada três mulheres sul-coreanas submeteu-se a cirurgia cosmética entre os 19 e os 29 anos, tendência que reflete os estritos padrões de beleza representados pelos astros do K-pop. Algumas sul-coreanas comemoram o fato de fazer cirurgia cosmética, documentando suas transformações físicas como um evento fundamental em sua vida.

Em dois vídeos intitulados "Embelezando-se antes" e "Embelezando-se depois", integrantes da banda K-pop Sixbomb mostravam, entre as consultas com cirurgiões plásticos, a procura por salões de beleza, onde tinham rostos espetados e cutucados. "Embelezando-se depois" mostrou-as usando uma segunda pele cor de rosa em uma sala operatória, e depois andando com o rosto mudado. / Sun Hyun Lee contribuiu para a pesquisa.

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