'Cozinhas fantasmas' crescem com o aumento das entregas de comida

Clientes podem pedir pratos indianos, hambúrgueres ou falafel em diferentes restaurantes e as comidas de todos eles podem ser feitas no mesmo espaço

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Por Jonah Engel Bromwich
Atualização:

A demanda pela entrega de comida não para de aumentar, e com ela vem um novo conceito de negócios: a cozinha fantasma. São restaurantes, habitualmente do segmento fast food/casual, que oferecem refeições exclusivamente via aplicativos como Uber Eats. As cozinhas fantasmas podem abrigar extensões de restaurantes existentes ou novas marcas.

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Mas os clientes não podem retirar o pedido no restaurante, nem comer em um espaço vizinho à cozinha. A parte lucrativa está no edifício: várias cozinhas fantasmas podem coexistir no mesmo espaço físico, dividindo ingredientes, equipamento e funcionários para atender a pedidos de diferentes marcas de restaurantes (na prática, isso significa que o cliente pode pedir comida indiana, hambúrgueres ou falafel em diferentes restaurantes, mas a comida é toda feita no mesmo endereço).

As cozinhas fantasmas estão surgindo em número cada vez maior na Europa e em ambas as costas dos Estados Unidos. Essas cozinhas são acompanhadas por uma dose de energia da indústria da tecnologia sob a forma de alguns nomes conhecidos: Travis Kalanick, ex-diretor executivo da Uber, vem trabalhando na CloudKitchens, uma startup dedicada às cozinhas fantasmas.

O fundo soberano da Arábia Saudita, importante investidor da Uber, teria investido US$ 400 milhões na nova empresa. E a startup Reef Technology, de Miami, que opera diferentes negócios além de cozinhas fantasmas, atraiu financiamento do SoftBank, que ajudou a financiar a Uber e a WeWork.

Entregadores de comida entram e saem de uma instalação em Manhattan que abriga seis marcas de restaurantes. Foto: Andrew White para The New York Times

Algumas empresas de entregas, incluindo a DoorDash, criaram suas próprias cozinha fantasmas. Cozinhas desse tipo possibilitariam que uma empresa como a DoorDash, ativa nos Estados Unidos, Austrália e Canadá, controlasse a operação de ponta a ponta. Os criadores dessas cozinhas acreditam que o conceito representa a lógica inexorável do mercado, uma otimização adicional de um sistema já eficiente. Mas ainda não está claro como isso vai afetar as pessoas e os empregos. O resultado pode ser um menor número de empregos com salários melhores.

E, se essas cozinhas começarem a fazer sucesso maciço nas cidades, o preço dos imóveis pode aumentar. “Os restaurantes de família e os restaurantes com salões maiores podem ter dificuldade para concorrer com essas cozinhas na nuvem", disse Mireya Loza, professora de estudos alimentares da Universidade de Nova York. “Minha pergunta é: onde as pessoas de diferentes origens poderão interagir?”

Os restaurantes de fast-food, por exemplo, se tornaram locais de reunião para pessoas que carecem de espaços públicos onde possam passar o tempo. A professora Marcia Chatelain, da Universidade Georgetown, em Washington, destacou que o McDonald’s, por exemplo, se tornou um pólo para diferentes tipos de atividades cívicas, desde a inscrição de eleitores até o ritual diário dos idosos reunidos para o café. Mas Callum Cant, autor de Riding for Deliveroo: Resistance in the New Economy, disse que, quando as cozinhas fantasmas foram introduzidas na Grã-Bretanha, elas logos se tornaram pólos de organização entre os trabalhadores.

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“Em Nottingham, as cozinhas fantasmas foram muito úteis", disse Cant. “As pessoas conversavam entre si quando estavam lá.” Isso supõe que o modelo não acabaria simplesmente eliminando o elemento humano das entregas. Ainda que Cant duvide da praticidade deste avanço, ele acredita que os proprietários esperam em algum momento automatizar completamente a produção e a entrega de comida.

David Chang, operador de restaurantes responsável pelo Momofuku, também conhece os planos desse tipo. “O fator que pode alterar a equação é a automatização total de tudo", disse ele. “Pessoalmente, acredito que é nesse momento que os adeptos da tecnologia não se preocuparão mais com o equilíbrio perfeito da comida. Vamos delegar a tarefa aos computadores.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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