'Crise climática vai remodelar setor de finanças', diz CEO da BlackRock

Em sua influente carta anual a executivos, Fink disse que sua empresa evitaria investimentos em empresas que "apresentam um alto risco relacionado à sustentabilidade"

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Por Andrew Ross Sorkin
Atualização:

Laurence D. Fink, o fundador e diretor executivo da BlackRock, anunciou no dia 14 de janeiro que a sua empresa estava tomando uma série de decisões referentes a investimentos em sustentabilidade ambiental, como seu objetivo principal. A BlackRock é a maior gestora de ativos do mundo com cerca de US$ 7 trilhões em investimentos, e esta decisão reformulará a condução dos negócios da América corporativa.

O boletim anual de Fink dirigido aos diretores executivos das maiores companhias mundiais costuma ser cuidadosamente observado. Na edição de 2020, ele dizia que a BlackRock começaria a abandonar alguns investimentos que “representam um elevado risco no que diz respeito à sustentabilidade”, como os das produtoras de carvão.

Ativistas criticaram a BlackRock, corporação que tem $ 7 trilhões em investimentos, por ignorar as questões climáticas. Foto: Justin Sullivan/Getty Images

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A sua finalidade agora será estimular cada companhia a repensar a sua pegada de carbono. “A consciência está se modificando rapidamente, e acredito que nós estamos prestes a reformular fundamentalmente as finanças”, escreveu. “A evidência do risco para o clima leva os investidores a reavaliar os pressupostos básicos das modernas finanças”.

A empresa, escreveu, injetará novos recursos que banem as ações orientadas para os combustíveis fósseis, votará contra as equipes de administração que não estiverem fazendo progressos em sustentabilidade, e pressionará as companhias a mostrarem os planos “de suas operações em um cenário em que o objetivo do Acordo de Paris de limitar o aquecimento global a menos de dois graus será plenamente cumprido”.

O boletim anual de Fink, assim como a sua declaração de dois anos atrás, segundo a qual as companhias devem ter um propósito além dos lucros, poderá influenciar o pensamento dos executivos do mundo todo. E agora Fink faz um alerta, falando de uma crise que, acredita, será a mais profunda dos seus 40 anos na área de finanças. “Mesmo que apenas uma fração da ciência esteja certa hoje, esta é uma crise de longo prazo muito mais estrutural”, escreveu.

A BlackRock tornou-se alvo de críticas da indústria e de grupos ambientalistas por insistir nestas questões. No mês passado, um gestor britânico de fundos hedge, Christopher Hohn, disse que era “espantoso” que a BlackRock não exigisse que as companhias revelassem os seus esforços em matéria de sustentabilidade.

No ano passado, os ativistas do clima fizeram manifestações de protestos em frente aos escritórios da BlackRock, e Fink recebeu cartas de membros do Congresso dos Estados Unidos instando-o a agir de maneira rápida em relação aos investimentos relacionados ao clima.

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O novo enfoque poderá pressionar outros gestores de grandes fortunas dos Estados Unidos a articularem estratégias a respeito da sustentabilidade. No mês passado, 631 investidores de todo o mundo, representando US$ 37 trilhões de ativos, assinaram uma carta pedindo aos governos que intensificassem os seus esforços contra a mudança climática, mas as maiores corporações americanas se omitiram.

A decisão da BlackRock poderá dar aos executivos licença para se concentrarem mais nesta meta, ainda que isto exija cortes dos lucros. A mudança poderá também fornecer o impulso necessário para as instituições que financiam empresas cujas operações emitem carbono a mudarem suas estratégias.

Fink pediu à BlackRock que pesquisasse os impactos econômicos da mudança climática; e constatou que eles já aparecem na forma de prêmios de seguro mais elevados, contra incêndios e inundações, e espera que as prefeituras tenham de pagar mais por seus títulos. Ele disse que onde quer que vá é bombardeado por indagações dos investidores sobre o clima. Fink escreveu que prevê uma importante mudança, muito mais cedo do que muitos poderiam imaginar, na alocação dos recursos.

“Como nas próximas décadas trilhões de dólares passarão para a geração do milênio, à medida que eles se tornarem CEOs e CIOs, à medida que se tornarem os responsáveis pela tomada de decisões e chefes de Estado, eles modificarão ainda mais o enfoque mundial da sustentabilidade”.

No entanto, Fink deixou claro que não condenará as companhias que promovem a venda geral de energia das geradoras de combustíveis fósseis. Em razão de as suas dimensões, a BlackRock continuará sendo uma dos maiores investidoras em companhias de combustíveis fósseis.

“Apesar dos rápidos avanços obtidos recentemente pela tecnologia, ainda não existe uma ciência capaz de substituir muitos usos essenciais dos hidrocarbonetos de hoje”, escreveu. “É preciso lembrar das realidades políticas, sociais, econômicas e científicas da transição da energia”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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