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Diminuição do público de apreciadores afeta a ópera nos EUA

Lyric Opera de Chicago e outras grandes companhias tentam se adaptar à nova realidade

Por Michael Cooper
Atualização:

CHICAGO - Até 2001, a Lyric Opera de Chicago vendia mais de 100% de ingressos. Ela não apertava os fãs da ópera nos corredores do seu teatro. A Lyric Opera vendia em geral todos os ingressos aos seus assinantes, e estes doavam os bilhetes não utilizados à companhia, que poderiavendê-los uma segunda vez.

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Mas aqueles foram os bons tempos da Lyric Opera. O livro “Subscribe Now!”, de 1977, de Danny Newman, que durante muito tempo cuidou da divulgação das atividades da casa, tornou-se uma bíblia para as empresas teatrais dos Estados Unidos. (Um capítulo intitulado “The Slothful, Fickle Single Ticket Buyer vs. the Saintly Season Subscriber” - Tradução livre: O preguiçoso e volúvel comprador de ingressos normais x o santo assinante de toda a temporada - dá uma ideia da coisa.)

Agora a Lyric Opera, como outras importantes companhias de ópera americanas, enfrenta um longo declínio do número de assinantes. É menos provável que o público atualcompre grandes pacotes de ingressos ou se comprometa a assistir aos eventos com meses de antecedência.

O declínio dos assinantes tumultua a já frágil economia da ópera, transformando a maneira como as companhias operam e programam. A Lyric dá atualmente 25% menos espetáculos operísticos completos do que fazia há vinte anos. Foram 60 na temporada passada.

As principais companhias operísticas lutam para fazer frente ao declínio do público, o que reduziu a bilheteria e influenciou a programação. Foto: Whitten Sabbatini para The New York Times

A redução da estação levou a orquestra da companhia a entrar brevemente em greve em outubro, quando a administração pediu e conseguiu alguns cortes do número de semanas em que os músicos trabalham e do número de integrantes da orquestra que se dedicam em tempo integral. “Nós nos demos conta de que, na realidade, a situação deixará de ser uma opção se quisermos sobreviver, e que dirá crescer”, afirmou Anthony Freud, o diretor geral da Lyric Opera.

O declínio das assinaturas não foi compensado pelos aumentos das vendas de ingressos normais, ocorre que o público caiu em geral. Por outro lado, atrair compradores de ingressos normais custa mais do que vender pacotes de assinaturas. Como os assinantes têm sido um canal para novos doadores, sua queda se dá em um momento em que as vendas de ingressos cobrem uma fração cada vez menor do custo da encenação de uma ópera. A Lyric Opera ainda vende duas vezes mais ingressos para assinantes do que ingressos normais. Mas o número de ingressos que ela vende aos assinantes caiu para menos da metade do que vendia há 20 anos. 

Quanto à Opera de San Francisco, que há algumas décadas vendia 75% dos seus ingressos a assinantes, este número hoje é aproximadamente a metade. O Metropolitan Opera de Nova York vende menos de 20% dos ingressos a assinantes. Na temporada passada, o Met vendeu 78 mil ingressos a um público novato e vende muito mais ingressos normais do que antes.

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Só ganhou 67% da bilheteria potencial, mas levando em conta os descontos, o público pagante foi em média de 75% para as suas 224 apresentações no ano passado. Na próxima temporada, o Met pretende acrescentar as matinês de domingo e começar a apagar as luzes às segundas-feiras, outrora a opção de entretenimento dos assinantes da alta sociedade.

Na Lyric Opera, Freud disse que os doadores estão cada vez mais interessados em apoiar obras novas ou raras, como “Bel Canto” de Jimmy López, que estreou aqui em 2015. “Uma programação mais antiga nunca irá funcionar para nós”, ele disse. O “Siegfried” da Lyric Opera apresentou os melhores cantores do mundo, como a soprano dramática Christine Goerke e o baixo-barítono Eric Owens. Na noite de estreia os ingressos se esgotaram. Antes da ópera, a multidão se reuniu no lobby e ficou tirando selfies, comprou rolinhos da “Sushi at Lyric” e degustou um coquetel de inspiração wagneriana chamado Fafner, o dragão adormecido da ópera.

“Eu temo pela ópera nos Estados Unidos”, disse Howard Smith, 88, que assistiu ao Siegfried” da cadeira da orquestra que ele ocupa como assinante desde 1961. “Todos começamos a vir à ópera por volta dos 30 anos; isto já não acontece muito hoje, com tantos outros tipos de entretenimento”.

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