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Distantes de Deus, ou apenas com os pés no chão?

Mesmo para os espiritualizados, a crença está em constante evolução

Por Robb Todd
Atualização:

Deus foi declarado morto mais de uma vez, mas a maioria das pessoas ainda acredita n'Ele. E, entre o número cada vez maior de pessoas que não acreditam em Deus, muitos acreditam em alguma coisa - ainda que não saibam dizer ao certo em quê.

Friedrich Nietzsche escreveu um dos primeiros obituários prematuros do todo-poderoso no final do século 19. Essa ideia, segundo escreveu no Times Katharine Q. Seelye, ganhou vida nova nos anos 1960 quando um grupo de teólogos radicais chegou à mesma conclusão.

A participação religiosa está em queda no Ocidente, parcialmente suplantada por modelos seculares de realizações de vida. Foto: Ryad Kramdi/Agence France-Presse

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"Deus está morto", disse um desses teólogos, Thomas J. J. Altizer. "Esse Deus não está mais presente, não se manifesta, não é mais real".

Altizer, que morreu no dia 28 de novembro, fez essa afirmação pela primeira vez numa época em que cerca de 97% dos americanos diziam acreditar em Deus. Nas palavras de Katharine, depois da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto, as pessoas começaram a se perguntar se haveria uma divindade benevolente nos observando. Entre os que tiveram essa dúvida estava Albert Einstein. 

"A palavra Deus é, para mim, apenas a expressão e o produto das fraquezas humanas, e a Bíblia não passa de uma coleção de lendas veneráveis, mas ainda assim primitivas", escreveu ele em 1954. "Nenhuma interpretação é capaz de mudar isso (para mim), não importa o quão sutil".

Essa citação é de uma carta de uma página e meia que ele escreveu em resposta a "Choose Life: The Biblical Call to Revolt" (Escolher a vida: o apelo bíblico à revolta), que foi vendida este mês por US$ 2,9 milhões num leilão, de acordo com reportagem de James Barron para o Times.

"Einstein usou a carta para rejeitar a ideia de um Deus que desempenha um papel ativo na vida cotidiana, respondendo a preces individuais", escreveu Barron.

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Einstein também disse não morrer de amores pelo judaísmo, mas tinha orgulho de ser judeu e, em outros momentos, orgulho de "não ser um ateu". Até Altizer evitou o vazio religioso, descrevendo a si mesmo como um "ateu cristão".

A proporção de americanos que se identificam como cristãos recuou para aproximadamente 70% da população. Mas Jonathan Merritt escreveu no Times que "é difícil imaginar esse resultado simplesmente conversando com as pessoas. Com frequência, a maioria diz que não se sente à vontade para falar de assuntos de fé".

Merritt, que escreve a respeito de política, cultura e religião, encomendou um levantamento no ano passado que revelou que mais de três quartos dos americanos "não participam de conversas religiosas com frequência". Ainda mais chocante, apenas 13% dos cristãos que frequentam a igreja com regularidade participavam de diálogos espirituais uma vez por semana.

O declínio do cristianismo institucional desde os anos 1960, e a época do Deus-está-morto seguiu por dois rumos diferentes. De acordo com Katharine, Altizer "incensou os evangélicos, e o efeito duradouro de suas palavras pode ter sido a ascensão da direita religiosa".

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Enquanto isso, Ross Douthat escreveu no Times que "empreendedores político-espirituais" e "gurus da autoajuda" começaram a substituir as igrejas tradicionais nos EUA.

Douthat diz ainda acreditar "em algo divino que criou o universo", mas está interessado em raciocínios e livros indicativos de um futuro pós-cristão, mais bem descrito como uma retomada do paganismo. Essa visão de mundo admite a possibilidade de uma vida após a morte, mas busca a felicidade e a harmonia no mundo real, e não fora dele.

"Diferentemente do ateísmo, insistimos que o cotidiano é moldado pelo divino e inspirado por Ele, mantendo um sentido, e não um conjunto aleatório", escreveu ele, “um lugar onde podemos realmente ter a esperança de nos sentirmos em casa".

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