Economia mundial continua presa na armadilha do baixo crescimento

Após um período de alívio, instituições financeiras alertam que os riscos econômicos continuam a crescer

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Por Neil Irwin
Atualização:

Os temores de uma recessão iminente, que causaria forte turbulência nos mercados financeiros no final de 2012 e início de 2019, amainaram um pouco. Esta é a boa notícia. A má notícia é o que este episódio revelou.

Durante a maior parte de 2018, parecia que a economia mundial finalmente sairia do impasse em que se encontrava nos últimos dez anos, desde a crise financeira global. Mas agora, tudo indica que a era de um crescimento persistentemente baixo, inflação baixa e juros baixos ainda não se acabou. No final de janeiro, o Banco Central Europeu informou que os riscos econômicos são "maiores", e que o Banco do Japão cortou suas projeções para a inflação.

As ações se recuperaram depois de uma queda acentuada no final de 2018, mas a incerteza volta a se materializar. Foto: Johannes Eisele/Agence France-Presse

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Apesar de alguns sinas promissores de vitalidade vistos na maior parte do ano passado, os problemas que perseguiram insistentemente a economia mundial na última década - uma força de trabalho idosa na maioria das principais economias, um crescimento fraco em termos de produtividade, excessiva poupança global e capacidade industrial, e escassez de demanda mundial - não desapareceram.

Os mercados enlouqueceram nas últimas semanas de 2018, em grande parte por causa dos temores de que o Federal Reserve (o banco central americano, conhecido como Fed) estivesse elevando os juros a um patamar maior do que a economia teria condições de suportar. 

O presidente do Fed, Jerome Powell, teve um papel fundamental ao alimentar a recuperação do mercado acionário quando, no dia 4 de janeiro, prometeu que o banco central ajustaria sua política "de maneira rápida e flexível", caso as condições permitissem. De fato, o Fed votou no dia 30 de janeiro aprovou em votação a manutenção dos mesmos patamares de juros e indicou que estes permaneceriam entre 2,25 e 2,5% por algum tempo.

No entanto, o que isso significa, considerando que uma simples taxa de juros de 2,4% - aproximadamente a meta do Fed depois de um aumento em dezembro - seria suficiente para desencadear o risco de quebrar a economia?

A história é mais pessimista na União Europeia, onde os juros estão ligeiramente abaixo de zero e contudo o crescimento é instável. Como a economia mundial depende consideravelmente de estímulos para alcançar um magro crescimento, a proteção será escassa no caso de um choque negativo.

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"Se é assim que parecem o crescimento e os investimentos quando a política monetária e fiscal é relativamente frouxa - principalmente nos EUA -, a força propulsora não se encontra ali", disse Adam Posen, presidente do Posen Institute for International Economics. "É assustador pensar que a economia mundial não tenha um respaldo macro", o que significa o estímulo proporcionado pelos juros baixos e grandes déficits.

A armadilha do baixo crescimento da última década e as rendas estagnadas podem ter contribuído para uma política disfuncional em nações como Grã-Bretanha, Itália e Estados Unidos. Isso, por sua vez, pode criar um novo risco de dificuldades econômicas.

O ano passado começou com sinais de uma nova crise econômica. No início de fevereiro, o mercado acionário estava caindo em razão dos temores de que a economia americana estivesse superaquecida; de que salários e preços começariam subindo rápido demais; e que o Fed elevaria os juros mais rapidamente para controlar a situação. As alterações nos mercados de títulos sugeriam que os investidores estavam apostando em uma inflação futura mais elevada - e em juros mais altos no futuro distante do que no futuro próximo.

No ano passado, pela primeira vez em muito tempo, as principais economias avançadas e emergentes, em sua maioria, desfrutaram de um surto de crescimento simultâneo. À medida que o ano foi passando, a inflação nos Estados Unidos finalmente voltou ao patamar dos 2% visado pelo Federal Reserve, e o padrão do Fed de aumentos trimestrais tornou-se, em geral, inútil nos mercados.

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Parecia que as antigas normas - de que o baixo desemprego se traduziria em uma inflação maior, de que os grandes déficits do governo expulsariam os investimentos privados - voltavam a vigorar. Mas na liquidação que acabou com 10% do S&P 500 do começo de outubro até a véspera de Natal, os juros de longo prazo caíram mais de meio ponto percentual. Os preços dos títulos apontaram para uma inflação futura menor, assim como a queda acentuada dos preços do petróleo.

Ao mesmo tempo, o crescimento mais fraco da China - 6,6%, segundo foi informado em 2018 - elimina uma fonte de força para a economia global. A China está tentando desvincular-se do crescimento impulsionado pelo endividamento.

"As autoridades chinesas estão perfeitamente conscientes de que, com muita probabilidade, terão uma bolha de crédito e procuram responder de maneira mais contida à atual crise", disse Julia Coronado, presidente da MacroPolicy Perspectives. "Mas é difícil aceitar um potencial de baixo crescimento. Estamos vendo a instabilidade política no mundo, e agora a China enfrenta a desconfortável decisão entre reiniciar a política de estímulo ou conviver com um crescimento consideravelmente mais lento".

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O que os últimos meses deixaram claro é que as forças que frearam a economia global nos últimos 11 meses não desapareceram. E isso torna o mundo vulnerável a um golpe de azar ou de uma política ruim. O escasso crescimento mundial não foi apenas uma fase. É a nova realidade implícita em toda questão e debate macroeconômicos no futuro previsível.

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