Adaptação de 'Emma' para o cinema é fiel à obra de Jane Austen

Nova adaptação cinematográfica acena para a recente popularidade de dramas espetaculares, mas não se afasta muito de sua fonte

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Por Anna Leszkiewicz
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LONDRES - Quando o vemos pela primeira vez, Knightley está nu. Posteriormente, Emma Woodhouse esquenta o traseiro exposto perto de uma fogueira. Na climática cena romântica do casal, salgue escorre do nariz de Emma. Em momentos como esses, a nova adaptação cinematográfica do romance Emma, de Jane Austen, que estreou na Grã-Bretanha no dia 21 de fevereiro, parece uma ousada extrapolação do original, tão contido.

Mas essa nova versão da obra de Austen já adaptada muitas vezes é, na verdade, bastante fiel ao romance. Com roteiro da romancista Eleanor Catton, este é o longa-metragem de estreia de Autumn de Wilde. A trilha sonora é de Isobel Waller-Bridge, que também compôs para o programa Fleabag, da irmã Phoebe.

Anya Taylor-Joy interpreta Emma como uma esnobe vaidosa. Foto: Focus Features

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As adaptações mais recentes da literatura de época como Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig, e The Personal History of David Copperfield, de Armando Iannucci, reinventaram parte do material original ao brincar com a estrutura e lançar um olhar moderno para as limitações sociais. Os personagens trocam falas que pareceriam naturais atualmente.

Esta versão de Emma é contada cronologicamente. Boa parte do diálogo foi tirada diretamente do livro, e os maneirismos da época foram mantidos. Injetar um espírito moderno “não era nossa principal consideração, na verdade”, disse Eleanor. “Quando li Emma, me identifiquei muito com a história”, disse ela, acrescentando que uma releitura moderna pareceu desnecessária. Autumn concordou: “Uma grande história é uma grande história. Meu objetivo nunca foi modernizar, e sim humanizar.”

Adaptar uma obra tão conhecida quanto Emma traz os próprios desafios. Durante a onda de adaptações de Jane Austen em meados dos anos 1990, foram produzidos nada menos que três longas-metragens a partir do romance. Quando uma série de TV foi levada ao ar na Grã-Bretanha em 2009, um crítico chegou a perguntar “se precisamos mesmo de outra versão de Emma”.

Eleanor insistiu que nunca foi feita uma “adaptação de época icônica” para o romance. O senso de humor do filme e “o estilo rebuscado e a estética absurda” de Autumn fazem este Emma se destacar, acrescentou ela. É verdade que este Emma altamente estilizado difere de seus antecessores, com cores pastel, explosões de cores brilhantes e cenas de quadro fixo, lembrando Maria Antonieta de Sofia Coppola ou O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson.

A atriz Anya Taylor-Joy exagera nas características indesejáveis de Emma. Sua Emma trama discretamente. É uma esnobe vaidosa e manipuladora. Essa Emma tem permissão para ser mais má em uma época em que mulheres autocentradas, privilegiadas e difíceis de gostar são celebradas nas telas.

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“Não haveria Fleabag sem Emma!” disse Eleanor. “É uma história a respeito de uma personagem que percebe o quanto é autocentrada”, algo que parece tão urgente em 2020 “quanto em qualquer outro período da história”, acrescentou ela. E há a questão da nudez e o sangramento nasal. “Para mim, era importante que Emma parecesse quase sobre-humana no começo, tornando-se então humana”, disse Autumn. “Também éramos humanos em 1814.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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