Empresas europeias ponderam sobre investimentos no Irã

Depois de uma aproximação rápida com o país, há dúvidas quanto ao que possa vir após a retirada dos EUA do acordo com o Irã

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Por Jack Ewing e Stanley Reed
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FRANKFURT - As empresas europeias agiram rapidamente e investiram no Irã depois que, em 2015, o país concordou com o encerramento do seu programa de armas nucleares em troca do fim das sanções econômicas.

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Montadoras de automóveis como Daimler e PSA Peugeot Citroën formaram parcerias com empresas iranianas para vender veículos. A alemã Siemens foi contratada para produzir locomotivas para o país. A francesa Total iniciou um projeto de exploração de gás natural na costa iraniana.

Mas, antes mesmo de o presidente Donald J. Trump ter abandonado o acordo com o Irã, muitas empresas tinham limitado suas expectativas, optando por investimentos mais realistas. Para elas, a perspectiva é de muita incerteza enquanto os líderes europeus tentam determinar se há um modo de prosseguir sem os Estados Unidos.

Representantes europeus querem proteger suas empresas encontrando um meio de mantê-las a salvo das sanções americanas enquanto fazem negócios com o Irã. Mas os EUA não oferecem motivos para otimismo. 

Steven Mnuchin, secretário do tesouro, disse que as licenças que permitem os negócios iranianos com as gigantes americana e europeia da aviação, Boeing e Airbus, “serão revogadas”.

A Boeing e sua rival, Airbus, serão prejudicadas pela decisão de Donald J. Trump de abandonar o acordo nuclear com o Irã. Foto: Kyle Johnson/The New York Times

“O objetivo é aplicar e manter o máximo de sanções contra o Irã",disse Mnuchin.

Com uma população de aproximadamente 82 milhões de habitantes e substanciais reservas de petróleo, o Irã representa um mercado pouco aproveitado com potencial de rápido crescimento, uma oportunidade rara para empresas ocidentais.

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Para a Europa, o Irã era um promissor exemplo do tipo de país emergente que ajudou a tirar a região de uma crise de endividamento nos anos mais recentes. As empresas alemãs, por exemplo, prosperaram com a venda de maquinário de fábrica, infraestrutura elétrica e equipamento de construção dos quais os países em desenvolvimento necessitam para construir economias modernas.

Mas, apesar de seu potencial, o Irã tem sido geralmente uma decepção para os investidores europeus. Numa economia disfuncional, muitos fracassaram em ganhar aderência numa burocracia repleta de disputas de poder político.

As empresas também foram sufocadas pela relutância dos bancos estrangeiros em oferecer financiamento e o temor (plenamente justificado, como se confirmou) de que o relaxamento nuclear não duraria. Embora as exportações da União Europeia para o Irã tenham aumentado cerca de um terço no ano passado, chegando a € 10,8 bilhões, ou cerca de US$ 12,8 bilhões, o país ainda era o 33º na lista de principais mercados do bloco comercial, atrás de Casaquistão e Sérvia, por exemplo.

“As relações econômicas entre Irã e Alemanha não estão correspondendo ao seu potencial", disse Volker Treier, da Associação Alemã de Câmaras de Comércio e Indústrias. Após a decisão de Trump de não prorrogar uma moratória nas sanções, disse Treier, “o avanço moderadamente positivo nos negócios com o Irã é acompanhado de um grande ponto de interrogação". No fim, talvez as expectativas tenham sido demasiadamente otimistas.

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Depois da suspensão das sanções, a francesa Airbus assinou um acordo para reformar a frota da Iran Air com mais de 100 aeronaves, incluindo uma dúzia de superjumbos A380. Até o momento, a Airbus entregou apenas três jatos e nenhum superjumbo, de acordo com o porta-voz da empresa. Em 2016, a Daimler assinou um acordo com a Iran Khodro, montadora com sede em Teerã, para distribuir caminhões da marca Fuso. Mas a demanda foi limitada em decorrência da fraca economia iraniana, explicou o porta-voz da Daimler, Florian Martens.

Até a indústria do petróleo iraniana tinha dificuldade para atrair investidores estrangeiros: o único acordo significativo assinado pelo país após a suspensão das sanções foi com a Total, para a exploração de jazidas oceânicas de gás natural. Ainda não se sabe se a Total poderá permanecer no negócio. Embora a Europa ainda possa receber proteção para suas empresas que atuam na região, a Total teme a imposição das chamadas sanções secundárias.

Representantes da União Europeia disseram estar elaborando planos para aliviar o impacto da saída de Trump, possivelmente ajudando a isolar empresas como a Total.

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“Estamos trabalhando em medidas para proteger os interesses das empresas europeias", disse Maja Kocijancic, porta-voz da Comissão Europeia. Mas não estava claro quais poderiam ser essas medidas.

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