PUBLICIDADE

Especialista em envelhecimento afirma que praticar karatê o mantém saudável

Reeditando a mitologia grega, com chutes e golpes cortantes

Por Karen Weintraub
Atualização:

O dr. Kirk Daffner, 61, parou para se concentrar antes de começar o primeiro de uma série de mais de 108 movimentos cuidadosamente coordenados. Deu golpes, rolava, fez flexões com um braço só e bateu no tatame com a mão aberta. Pulou no ar com os braços e as pernas abertas, tocou os pés, depois gritou ao chutar um inimigo invisível, com os punhos cerrados ou os dedos esticados, cortando o ar vazio.

O dr. Kirk Daffner pratica os movimentos de uma antiga forma de karatê sob a supervisão do seu mentor, George Gonis, de 90 anos. A disciplina enfatiza a fortaleza mental. Foto: Karen Weintraub

PUBLICIDADE

Ele e mais alguns homens, praticam regularmente exercícios como estes há mais de 40 anos, sob a atenta supervisão de George Gonis, que dirige a pequena academia onde eles perdem alguns quilos em sessões de 90 minutos cada uma. Todos treinam no estilo de karatê da antiga Grécia, conhecido como pankration, com Gonis, alguns deles com algumas interrupções, desde a adolescência ou os 20 anos.

O dr. Daffner, neurologista e especialista em envelhecimento da Harvard Medical School, considera Gonis seu segundo pai. E admite que, apesar dos seus diplomas, dos anos de treinamento e da fama internacional, o seu professor de karatê conhece mais sobre envelhecimento saudável do que ele.

“Sua visão a respeito de como manter a saúde e promover um bom envelhecimento estava realmente dezenas de anos à frente do seu tempo”, afirma o médico.

Não só o exercício físico que o pankration exige, mas também a fortaleza de espírito que o treinamento promove - principalmente como o praticado por Gonis - mostraram em alguns estudos que são vitais para envelhecer bem. O mundo científico finalmente reconheceu o valor de Gonis, disse o dr. Daffner.

Gonis, 90, advogou durante algum tempo antes de se dedicar ao karatê em tempo integral, mas sempre defendeu a prática de exercícios físicos, juntamente com uma dieta mediterrânea à base de vegetais e o estímulo intelectual. “Eu não bebo, não fumo, não uso drogas, nunca fiz isto”, disse Gonis.

As estantes no escritório de Gonis estão repletas de livros, inclusive de cálculo matemático e filosofia da antiga Grécia, e ele sempre exigiu que os seus discípulos redigissem trabalhos sobre os filósofos. “O cérebro faz parte do corpo,” dizia.

Publicidade

Cada série de manobras do karatê grego, como a “forma” que o dr. Daffner demonstrara há pouco, conta uma história da antiga Grécia. Seus movimentos naquela noite ilustraram Odisseu voltando de uma viagem que durara 20 anos, e depois lutando contra os 108 pretendentes de sua esposa Penélope.

O dr. Daffner acredita que a persistente força de Gonis -sua forma física ainda supera a de discípulos dezenas de anos mais jovens - não tem tanto a ver com sorte. Os pais e as irmãs de Gonis morreram com mais de 70 anos.

Estudos confirmam que este trabalho tem implicações para o envelhecimento saudável. A autoconsciência, que se reflete na tendência à determinação, foi relacionada a uma considerável redução do risco do declínio cognitivo, mais tarde na vida. Outra pesquisa sobre o envelhecimento bem-sucedido enfatiza como é importante confiar nas próprias capacidades.

O dr Daffner disse que aplica a sua habilidade no karatê diariamente, no autocontrole que aprendeu a exercer sobre o próprio corpo. “O treinamento do corpo implica realmente o controle da mente”, afirmou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.