15 de setembro de 2019 | 06h00
PARIS - Um grupo dos principais arquitetos franceses denunciou um plano de reforma da Gare du Nord, uma das principais estações de trem de Paris, descrevendo como “indecente", “absurdo” e “inaceitável" o projeto que transformaria a estação em um shopping de vidro cheio de restaurantes. A reforma da Gare du Nord, maior estação de trem da Europa, custaria 600 milhões de euros, cerca de US$ 660 milhões, e exigiria dos usuários que caminhassem por uma plataforma repleta de lojas antes de entrar nos trens.
Em carta aberta publicada no Le Monde, Jean Nouvel e outros 18 arquitetos da Grã-Bretanha, França e Estados Unidos chamaram de “grave ofensa” aos viajantes o plano para triplicar a superfície da estação. “Obrigar centenas de milhares de pessoas a caminhar por espaços comerciais torna-se insuportável quando esta dádiva aos negócios é acompanhada por jornadas longas e desnecessariamente complicadas", disseram eles na carta.
O diretor executivo da S.N.C.F. Gares & Connexions, encarregada do projeto, defendeu o plano em artigo publicado também no Le Monde. “Essa transformação é voltada principalmente para quem usa o transporte diariamente para chegar ao trabalho", escreveu Claude Solard. Ele disse que buscou conciliar as aspirações dos “viajantes apressados” com a criação de serviços para aqueles que dispõem de mais tempo.
A Gare du Nord é uma importante central de transporte ferroviário que atende as zonas leste e norte de Paris e também conecta a cidade a Amsterdã, Bruxelas e Londres. A estação recebe 700 mil passageiros por dia, e o tráfego diário deve aumentar para 900 mil pessoas até 2030.
Mas, apesar de muito utilizada, a estação não agrada a muitos. Faz anos que os viajantes a criticam por ser muito escura, disfuncional e até caótica. Um destacado líder empresarial britânico chegou a chamá-la de “pocilga da Europa". O projeto de reforma da Gare du Nord prevê uma ampliação do espaço de sua superfície de 36 mil para 112 mil metros quadrados, com aspecto semelhante à estação Gare Saint-Lazare, que atende os subúrbios ricos a oeste de Paris.
Além dos restaurantes e lojas, a estação reformada incluiria também espaços de coworking e exposição, instalações esportivas como uma pista de atletismo no teto, e um estacionamento para duas mil bicicletas. A construção está marcada para começar entre o fim do ano e o início de 2020, sendo concluída até 2024, quando Paris sediará os Jogos Olímpicos e Paralímpicos. Para os arquitetos que criticam a ideia, dizer que o projeto poderia ser finalizado em menos de cinco anos é “ridículo".
Na sua resposta, Solard, o diretor executivo da empreiteira, disse que os benefícios proporcionados pela estação reformada continuarão beneficiando o público muito após o término dos jogos. “Tudo se resume a uma questão", disse Bernard Landau, ex-vice-diretor de planejamento urbano de Paris. “Deveríamos transformar todas as estações de trem em shoppings?” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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