Estudo sugere que 'acumuladores' podem sofrer de estresse

Dados também mostram que o acúmulo de objetos está ligado a uma maior insatisfação com a vida

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Por Emilie Le Beau Lucchesi
Atualização:

Você tem um problema de acúmulo em casa?

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Quando temos de tirar coisas do lugar para cumprir alguma tarefa ou quando nos sentimos sobrecarregados por todas as "coisas" que temos no escritório, vemos fortes indícios da vitória do acúmulo. E é bem possível que o resultado dessa situação seja o estresse.

"O acúmulo é uma abundância demasiada de posses que, juntas, criam espaços caóticos e desordenados para se viver", disse o professor de psicologia Joseph Ferrari, da Universidade DePaul, em Chicago. 

Pesquisas mostram que as mulheres são mais propensas a desenvolverem uma resposta psicológica ao acúmulo de objetos. Foto: Seth Wenig/Associated Press

E os pesquisadores estão aprendendo que um lar atabalhoado de objetos pode ser um lar estressante. Ferrari é parte de uma equipe de pesquisa que questionou três grupos a respeito do acúmulo e da satisfação com a própria vida: universitários, adultos na casa dos 20 e poucos anos e 30 e poucos anos e adultos mais velhos, geralmente na faixa dos 50 anos.

Os autores avaliaram a tendência dos voluntários para a procrastinação, pedindo que respondessem a afirmações do tipo "pago minhas contas em dia". A procrastinação é fortemente ligada ao acúmulo, pois separar e descartar objetos é uma tarefa que muitas pessoas evitam. É necessário tempo para arquivar documentos importantes ou organizar os muitos volumes que soterraram uma mesa sob os livros. Os pesquisadores também mediram o bem-estar geral dos participantes em relação a como o acúmulo poderia afetar suas vidas.

O estudo, publicado na revista Current Psychology, identificou um elo entre a procrastinação e o acúmulo em todos os grupos etários. A frustração com o acúmulo de objetos tente a aumentar com a idade. Entre os adultos mais velhos, o acúmulo de objetos também está ligado a uma maior insatisfação com a vida.

As revelações se somam a um corpo cada vez maior de evidências indicando que o acúmulo tem um impacto negativo na saúde mental, especialmente entre as mulheres. O acúmulo pode também induzir uma resposta fisiológica, incluindo níveis mais elevados do cortisol, hormônio ligado ao estresse.

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Um estudo de 2010 publicado na revista Journal of Personality and Social Psychology analisou casais com duas fontes de renda e pelo menos um filho em idade escolar. As mulheres que participaram do estudo e se consideravam morando num lar demasiadamente atravancado pelo acúmulo de objetos apresentaram a tendência de níveis mais elevados de cortisol ao longo do dia. Entre os participantes que não sentiam o efeito negativo do acúmulo (em sua maioria homens), os níveis de cortisol tendiam a baixar durante o dia.

Darby Saxbe, professora-assistente de psicologia da Universidade do Sul da Califórnia e principal autora do estudo, disse que as mulheres que descreveram seus lares como cheios de objetos começaram o dia estressadas e assim permaneceram. Ela suspeita que parte desse estresse adicional estaria ligado à tendência das mulheres de assumir as tarefas do lar após a jornada de trabalho. Os homens que se ocupavam das tarefas do lar apresentavam probabilidade semelhante de níveis mais elevados de cortisol no fim do dia. A diferença, segundo ela, é que o número de homens que se dedicam a essas tarefas do lar é menor.

Num estudo de acompanhamento, Darby descobriu que as mulheres se mostravam mais propensas a se queixar do acúmulo ou do seu número de projetos inacabados. Ela também diz que há uma concepção bem definida de como um lar de classe média deve funcionar. "O lar é um lugar para onde voltamos e onde podemos relaxar", disse. "Mas isso é difícil quando o lar traz uma lista de tarefas e um volume interminável de coisas a serem arrumadas".

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Ferrari destacou que o acúmulo também é frequentemente o resultado de um "apego exagerado" aos objetos pessoais. Ele recomenda uma abordagem de baixo envolvimento: "Convide alguém para ajudar e peça à pessoa que lhe mostre um par das suas calças, perguntando 'Você precisa disso?'. Depois que tocamos o objeto, a probabilidade de o descartarmos é menor".

Outra alternativa é fazer um esforço consciente no sentido de comprar menos coisas. Darby pediu aos consumidores que pensassem bem se realmente necessitavam de um artigo ou se ele só iria aumentar a sensação de atravancamento e disfunção de seu lar. "Depois que trazemos o objeto para casa, torna-se muito difícil lidar com ele", disse ela. "Logo nos apegamos aos objetos que possuímos".

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