Europa associa campanha de desinformação à Rússia

Às vésperas das eleições para o Parlamento Europeu, investigadores descobriram mensagens suspeitas de WhatsApp, além de contas no Facebook e no Twitter que promovem desinformação

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Por Matt Apuzzo e Adam Satariano
Atualização:

LONDRES - Dias antes de importantíssimas eleições para o Parlamento Europeu, uma constelação de sites e contas de redes sociais ligados à Rússia ou a grupos de extrema direita está disseminando desinformação, fomentando a discórdia e amplificando a desconfiança nos partidos centristas que governam há décadas. Sites de comentários políticos extremistas na Itália, por exemplo, apresentam a mesma assinatura eletrônica que sites pró-Kremlin, enquanto um par de grupos políticos alemães partilha de servidores usados pelos hackers russos que atacaram a Comissão Nacional Democrata nos Estados Unidos.

A atividade traz novas evidências da contínua atividade da Rússia em sua campanha para exacerbar as divisões políticas e enfraquecer as instituições ocidentais. Apesar dos esforços de policiamento online, ainda é muito mais fácil disseminar informações falsas do que detê-las. A Rússia continua sendo uma força que impulsiona essas campanhas, mas os pesquisadores também descobriram imitadores, particularmente entre a extrema direita. Esses grupos costumam ecoar os argumentos do Kremlin, tornando difícil a distinção entre propaganda russa, desinformação da extrema direita e debate político autêntico.

Recentemente, o Facebook abriu uma central de operações em Dublin para ajudar no monitoramento das eleições europeias. Foto: Paulo Nunes dos Santos / The New York Times

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Os investigadores acreditam que redes de perfis do Facebook, contas do Twitter, grupos de WhatsApp e sites da internet estão espalhando histórias falsas e instigadoras a respeito da União Europeia, da Otan, dos imigrantes e mais. “O objetivo geral é maior do que uma eleição específica", disse Daniel Jones, cujo grupo sem fins lucrativos, Advance Democracy, identificou recentemente uma série de páginas suspeitas e perfis de redes sociais que merecem a atenção do policiamento. “A ideia é criar constantes divisões, aumentar a desconfiança e minar nossa fé nas instituições e na própria democracia. Estão trabalhando para destruir tudo que foi construído depois da 2.ª Guerra Mundial.”

As eleições para o Parlamento Europeu, que serão realizadas entre 23 e 26 de maio, são consideradas um teste para a ascensão do populismo na União Europeia. Líderes populistas formaram uma aliança na esperança de expandir sua influência no parlamento e, por sua vez, redirecionar ou subverter as políticas elaboradas em Bruxelas.

As autoridades não acusaram publicamente Kremlin de defender especificamente determinados candidatos, mas faz tempo que o presidente Vladimir V. Putin tenta dividir a UE, declarando apoio a movimentos populistas que buscam enfraquecer o bloco a partir de dentro. A Rússia nega as acusações de interferência. “É paranoia suspeitar dos outros por causa de algo que ainda não aconteceu", ponderou em março o primeiro-ministro russo, Dmitri A. Medvedev.

Ainda assim, os investigadores descobriram centenas de contas do Facebook e do Twitter, mais de mil exemplos de mensagens de WhatsApp compartilhando material suspeito, e uma série de sites suspeitos que promovem a desinformação. É quase impossível quantificar a dimensão e a ressonância das notícias falsas. Os pesquisadores dizem que milhões de pessoas têm acesso ao material.

Na Alemanha, o partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha, ou AfD, obtém apoio de canais russos oficiais e extraoficiais. Mas Jones disse que Kremlin também parecia amplificar as mensagens dos maiores opositores do AfD, os antifascistas de esquerda, sublinhando o verdadeiro interesse da Rússia: semear a discórdia política nas democracias, independentemente da ideologia.

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Mas, enquanto a Rússia continua sendo uma preocupação, as autoridades dizem que grupos políticos de todo o continente - principalmente os defensores da extrema direita - estão adotando muitas das táticas de Kremlin, confundindo ainda mais a responsabilidade pelas mensagens. As empresas endureceram suas políticas para eliminar contas falsas, mas pesquisadores dizem que suas plataformas sempre serão um campo fértil para campanhas de influência.

Desde 2016, o Facebook contratou milhares de pessoas para trabalhar com questões de segurança envolvendo eleições, incluindo uma nova central em Dublin para coordenar a supervisão das eleições na Europa. Foram removidas cerca de 2,8 bilhões de contas falsas, e redes de difusão de desinformação foram banidas. Mas os pesquisadores dizem que as táticas de desinformação estão mudando com os hábitos digitais das pessoas, incluindo o uso de plataformas de mensagens como o WhatsApp. “Não devemos permitir que as plataformas responsáveis por criar o problema cuidem também de desenvolver soluções para ele", afirmou Marietje Schaake, integrante holandesa do Parlamento Europeu. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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