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Exame de sangue indica eficácia de treinamento esportivo

Para evitar fadiga e lesões, equipes esportivas recorrem à chamada bioanálise

Por Marc Stein
Atualização:

DALLAS - Seja na tentativa de manter saudável seu principal responsável pela armação de jogadas, Jose Juan “JJ" Barea, ou de manter o jovem fenômeno Luka Doncic longe do esgotamento que acomete os iniciantes, a equipe de basquete Dallas Mavericks, que disputa o campeonato profissional americano da National Basketball Association, recorre à mesma ferramenta: um exame de sangue.

Os Mavericks usam frequentes exames de sangue realizados por uma empresa irlandesa chamada Orreco, que chega à sua terceira temporada de recomendações personalizadas para os Mavericks em relação aos regimes de treino dos atletas e suas dietas, recorrendo principalmente ao estudo da análise do sangue.

O armador dos Dallas Mavericks, Jose Juan 'JJ' Barea, tira sangue da orelha para examinar seus indicadores biológicos em busca de sinais de lesão. Foto: Allison V. Smith para The New York Times

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"Todas as métricas de desempenho comentadas pelas equipes da NBA - minutos de jogo por atleta, sua carga de trabalho, os dados de rastreamento, as informações de vídeo - são dados externos que usamos na tentativa de prever o que está ocorrendo internamente", disse Casey Smith, diretor da equipe de treinadores dos Mavericks. "O que tentamos fazer é enxergar um pouco do que está ocorrendo internamente".

Os Mavericks são apenas a segunda equipe da NBA (além dos New York Knicks) a contratar os serviços da Orreco, que propõe remédios personalizados para combater a fadiga e tenta identificar aumentos nos riscos de lesões e doenças por meio da obtenção de uma série de dados a partir do sangue dos atletas, inserida em programas de aprendizado de máquina. O proprietário dos Mavericks, Mark Cuban, disse que a equipe paga à Orreco quase US$ 150 mil ao ano.

Valendo-se das descobertas feitas pela Orreco, os treinadores dos Mavericks definem regimes de treinamento, repouso e recuperação para cada um de seus 17 atletas. Nenhum deles é mais adepto desse sistema que Barea, que compreende muito bem a ideia segundo a qual atletas cansados estariam mais propensos a sofrer lesões nos músculos e ligamentos. Duas temporadas atrás, em meio a previsões preocupantes, ele sofreu uma ruptura no músculo da panturrilha. Desde então, Barea busca se manter atualizado quanto aos próprios níveis de estresse oxidativo (preocupantes quando elevados). 

Nessa temporada, ele apresentava alguns dos melhores resultados de sua carreira (média de 11 pontos e seis assistências em apenas 20 minutos por partida, antes de se lesionar jogando contra o Minnesota Timberwolves no dia 11 de janeiro), aderindo às sugestões indicadas pelos dados da Orreco. 

"No momento atual da minha carreira, é necessário dar mais atenção ao corpo", disse Barea. "Eles me ajudam a perceber o que está acontecendo, por exemplo, o tipo de alimento que devo procurar ou evitar. Quero saber essas informações".

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Jose Juan 'JJ' Barea acredita que o acompanhamento de indicadores biológicos pode ajudar a melhorar o desempenho físico e evitar lesões. Foto: Sue Ogrocki/Associated Press

Em quatro momentos durante a temporada, funcionários da Orreco visitam Dallas para recolher uma amostragem completa de sangue venoso dos jogadores dos Mavericks. O time realiza também coletas menores e mais frequentes de sangue capilar, usando amostras minúsculas para obter leituras quase instantâneas do nível de estresse oxidativo. As regras do campeonato permitem que os atletas se neguem a realizar exames de sangue caso considerem os procedimentos demasiadamente invasivos, mas o time disse que somente um Maverick fez essa opção.

De acordo com Brian Moore, cofundador da Orreco, as amostras permitem que a empresa analise a bioquímica e a hematologia de um jogador por meio da análise de quase 50 indicadores biológicos. Isso inclui o exame de creatina quinase para avaliar danos musculares e proteína C reativa ultrassensível para medir a inflamação. Indicadores de nutrição e hidratação estão entre as variáveis adicionais usadas para determinar a "prontidão de desempenho" de um atleta. Os algoritmos também levam em consideração os minutos de jogo, viagens, tempo de sono e rapidez de reação. Ainda assim, alguns duvidam da técnica.

"Me parece que, no momento, essa é uma ferramenta com base em pesquisas, mas não acredito que esteja pronta para a aplicação em massa. O que estão fazendo é algo que, talvez em 10 anos, nos faça dizer, 'Uau, são informações ótimas", afirmou Robert Dimeff, que já foi presidente da Sociedade Americana de Medicina Esportiva.

Ainda que os Mavericks estejam longe de serem os únicos a adotar técnicas bioanalíticas, eles figuram na breve lista de equipes esportivas de alto nível dispostas a valorizar o trabalho da Orreco. Outra equipe de destaque a reconhecer os méritos da empresa é o Newcastle United, da primeira divisão do futebol inglês. Por meio de uma pessoa informada a respeito do contrato entre a empresa e a equipe, o Times confirmou que os Knicks são a outra equipe da NBA a empregar a Orreco. A empresa disse que não comentaria a respeito dos Knicks, nem das duas equipes americanas profissionais de beisebol ou o outro time da primeira divisão inglesa que estão entre os seus clientes.

De acordo com dados mantidos pelo site InStreetClothes.com, que acompanha as lesões nos jogadores da NBA, os atletas dos Mavericks não deixaram de participar de nenhuma partida por causa de doenças na temporada passada, enquanto a média do campeonato foi de 7,1 ausências em partidas por equipe.

"Isso não significa necessariamente que vencemos mais jogos", disse Smith. "Mas é algo que aumenta nossas chances".

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