Faça você mesmo – soluções inspiradas pelo coronavírus

Da Irlanda a Seattle, fabricantes e engenheiros estão criando versões de código aberto de equipamentos médicos tão necessários

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Por Alexandra E. Petri
Atualização:

Há momentos em que Gui Cavalcanti tem a sensação de ter acordado em um universo anti-utópico – uma pessoa sem nenhuma formação em resposta a desastres, de repente está chefiando uma iniciativa internacional para criar um equipamento médico destinado ao combate da pandemia do covid-19, a mais grave ameaça à saúde pública do nosso tempo.

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“Nunca trabalhei tanto em um emprego que, para começar, eu nem queria,” escreveu em um texto, em uma entrevista recente. Equipamentos médicos essenciais, desde as luvas para exame a ventiladores, são escassos. Diante disso, os entusiastas do open-source de todo o mundo se uniram para catalogar projetos de aparelhos cruciais do tipo ‘faça você mesmo’, que podem salvar vidas.

Cavalcanti é o fundador da Open Source COVID19 Medical Supplies, um grupo do Facebook cujos integrantes estão trocando entre si ideias para solucionar o problema da redução dos estoques de equipamentos médicos. Fundador e diretor executivo da empresa de robótica MegaBots, ele pretendia concentrar-se na produção de ventiladores quando um cirurgião da San Francisco Bay Area o convenceu a produzir itens para higienização, luvas, jalecos e máscaras.

Os ventiladores não serviriam para nada se não houvesse trabalhadores de saúde para operá-los. Em muitos lugares, a falta de suprimentos já é dramática. Enfermeiros do Brigham e do Women’s Hospital de Boston recorreram às redes sociais para conseguir donativos de máscaras N95.

Pessoas de todo o mundo estão criando versões de equipamentos de código aberto. Um estudante em Zaragoza, Espanha, fazendo escudos. Foto: Javier Cebollada/EPA, via Shutterstock

Os funcionários da Providence St. Joseph Health, uma rede de 51 hospitais em vários estados americanos, construíram protetores para o rosto feitos com vinyl, fita industrial, espuma e elásticos adquiridos nas lojas de reforma de casas e de artesanato. Os Estados Unidos só têm cerca de 160 mil ventiladores disponíveis – muito menos do que o necessário para oferecer tratamentos que salvem a vida nos casos mais críticos do coronavírus.

Enquanto as autoridades se esgotam para encontrar soluções, os que gostam do método ‘faça você mesmo’ estão caminhando. Quando Cavalcanti começou o seu grupo, disse aos seus moderadores que precisava “crescer mais depressa do que o vírus”. Em pouco mais de duas semanas, já havia conseguido a adesão de mais de 50 mil pessoas.

Elas compartilham os seus projetos de várias peças de equipamentos, e procuram incentivar os outros. “Vocês têm o estofo de que são feitas as revoluções”, escreveu Angus Joseph, de Durban, África do Sul, no dia 18 de março. Para que as coisas continuem organizadas, Cavalcanti criou um subgrupo de 130 pessoas encarregadas da filtragem das informações, e está montando um catálogo de soluções open-source para equipamentos médicos à medida que o processo avança. (A Versão 1.1 do guia foi lançada no dia 20 de março).

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Os moderadores indicam os projetos a uma equipe de profissionais médicos para a sua avaliação. Em seguida, um grupo encarregado da documentação reúne as informações aprovadas, criando uma biblioteca virtual que detalha o equipamento incluindo luvas para exame, máscaras para o rosto, salas de pressão negativa e máscaras de oxigênio. Rusty Oliver, um artista industrial de Seattle, decidiu entrar no grupo quando viu as prateleiras vazias, sem produto para higienizar as mãos.

Trevor Smale, um ilustrador de Toronto, postou uma primeira ilustração do seu projeto de ventilador para o grupo do Facebook. As respostas o levaram a criar uma página GitLab para o projeto, que chamou OpenLung. Agora ele colabora com o OpenSource Ventilator Ireland, uma organização de voluntários que desenvolve ventiladores de baixo custo.

Colin Keogh, um dos fundadores do OpenSource Ventilator Ireland, disse que, por mais excitante que este desafio seja do ponto de vista de um engenheiro, ele espera que os hospitais nunca precisem usar o equipamento que o grupo está desenvolvendo. “Esta é considerada uma intervenção de emergência”, afirmou. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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